segunda-feira, 16 de junho de 2025

Há desencontros, entre encontros?

Há encontros que não vêm para preencher vazios, mas para acender o que já estava aceso, só que em silêncio. Quando uma pessoa completa a outra, não é um encaixe perfeito, daqueles que se moldam à força; é uma dança leve, em que os passos se aprendem no compasso do afeto. Ela não precisa ser como ele. Ele não precisa entender tudo nela. Mas há um entendimento maior, mais sutil, um saber estar junto mesmo quando se está longe. Permanecer inteiro mesmo quando o outro se desmonta. Completar não é somar, é transbordar. É quando o que o outro carrega ecoa em nós. É quando o medo de um encontra o colo do outro. Quando as palavras se tornam desnecessárias e o silêncio, seguro. É a mão que não guia, mas acompanha. O olhar que não julga, mas acolhe. É o toque que não invade, mas reconhece. Duas almas inteiras, que não se precisam para viver, mas se escolhem para caminhar. Que sabem que o amor não é salvar ninguém, mas ser abrigo enquanto o outro se encontra. Quando uma pessoa completa a outra, a vida não vira conto de fadas, mas se torna mais leve, mais real e, talvez, até mais bonita.

sábado, 14 de junho de 2025

Noite de chuva.

Chovia como se o céu também a tivesse perdido. Cada gota era uma lembrança que batia no telhado, insistente, como quem pede para voltar. A janela embaçada era o espelho do meu peito e nenhuma imagem ficava, tudo escorria. Eu me sentei no chão, entre sombras e silêncios, os dedos buscando no vazio o calor das mãos dela. Lá fora, os trovões gritavam o que eu calava: que viver depois dela era habitar um mundo onde os deuses dormem e os relógios se recusam a girar. O cheiro da chuva misturava-se ao perfume que restou no lençol. Fechei os olhos. E por um segundo, ela estava ali, molhada, como naquela primeira vez, rindo, dançando com os pés nus no barro. Mas era só a lembrança. E a memória, essa traidora, também escorreu pela calha com a última esperança.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

O sol, o meu grande amigo.

 O sol, meu grande amigo das horas incertas, ele que esquenta a minha solidão da noite, seca as minhas lágrimas de infortúnios vividos nas ruas dos desenganos à procura de uma nova aventura. E foi então que, entre sombras e promessas desfeitas, surgiu ela, mulher de passos leves e olhos de alvorada, trazendo nos lábios o gosto do primeiro dia, e no peito, um amor que não pedia licença para ficar. Ela não falava de eternidades, mas o tempo calava diante do seu toque. Seu sorriso era uma manhã em flor, e seus silêncios, a paz que eu jamais soube nomear. Com ela, o sol já não era apenas consolo, mas testemunha viva de um encontro raro. A aventura já não morava nas esquinas do acaso, mas no simples gesto de caminhar ao seu lado. E assim, sob o olhar do céu que tudo perdoa, descobri que o amor verdadeiro não chega com alarde, ele acende bem devagar como a luz que vence a madrugada.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Rosas de um encontro.

Como perfume que invade as veias, chegaste sem aviso ao meu coração, trazendo calma às marés alheias, feito um sussurro em meio ao trovão. Na rua onde os sonhos se perdiam, teus olhos me chamaram para ficar, e as dores que antes me consumiam se calaram, só para te escutar. As rosas rubras do nosso instante não se foram por ventos ou tempestades, floresceram num toque vibrante, em um amor que não volta atrás. Um sonho sem fim na perdição, onde me perco e quero estar, e a noite contigo, como oração, nunca deixará  a solidão voltar. Os espinhos que guardam a beleza não ferem nossos sorrisos. E unidos seguimos com a alma acesa, esnobando o passado e nossa dor. Agora caminho ao teu lado, sem medo dos dias escuros, pois no teu abraço encantado descobri meus caminhos mais puros. E ali, em silêncio e emoção, sem promessas ou obrigação, ficamos como olhares na imensidão, perdidos na doce vastidão de paixão.

Para uma namorada.

No compasso dos dias corridos, entre rotinas e silêncios sutis, há um amor que resiste calado feito chama que arde por um triz. És mulher de caminhos profundos, de gestos que o tempo moldou, com a alma firme e serena. Mesmo quando o vento soprou. Amor não é sempre florido, nem todos os dias são festa, mas há beleza no simples, na presença que nunca se resta. Se há amor, que ele seja inteiro, feito abraço no fim do dia, se há dúvida, que haja escuta, e se há dor, que venha a calmaria. Neste dia que celebra o encontro, que celebres também a ti, porque amar é também coragem. De ser quem se é, até o fim, feliz Dia dos Namorados. Mulher de amor e verdade, que o amor que tens por ti mesma seja tua maior lealdade.

terça-feira, 10 de junho de 2025

Quando você passa

Meu mundo cai, desmorona em silêncio, quando você passa, desinibida, pelos cantos do meu coração. Este que lateja, quando avista você perto, e se desalinha, tremendo, com a sua ausência. É como se o tempo parasse, e a respiração fugisse, cada olhar seu é um tremor, uma maré que me arrasta, sem pedir licença. Você não sabe, mas deixa rastros de luz na sombra dos meus dias, e mesmo sem querer, vira meu universo do avesso. E eu fico aqui, com o peito aberto, aguardando sua flor vermelha para plantar no meu coração. Eu acredito no amor, mesmo que as ilusões sejam adeus, sem sombra, sem sorrisos, somente penas vazias no vento.

Onde está o paraíso dos meus sonhos?

 Onde está o paraíso dos meus sonhos?

Da alma desenhei caminhos, com rios de névoa e ventos calmos, flores que nascem só nos silêncios e luas que brilham sob meus salmos. Sonhei com montes de eternos instantes, com olhos que curam, com mãos que não partem, im riso guardado no fundo do tempo, um lar onde os dias jamais se desaliem. Mas a cada sonho, o véu se desfaz, o paraíso, sempre além do traço, feito miragem que dança e recua, feito promessa perdida no espaço. Até o sonho, cansado e sem fé, deitou suas asas sob a madrugada. E ali compreendi: nem ele encontrou a terra sagrada, a paz desejada. Talvez o paraíso não seja um lugar, mas sim o caminho, o passo, o erro, o laço.Talvez ele more, pequeno e secreto, no breve calor de um abraço.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Uma das sabedorias dos conselhos.

Se eu te dou um conselho, não é por saber mais.
É que já caminhei por becos, onde a dor fez seus sinais.

Não é por ser mais sábio, nem por ter razão demais.
É só que errei tantas vezes, que aprendi a ver sinais.

Cada tropeço me deu voz. Cada queda, uma lição.
E hoje, se falo contigo. É só do fundo do coração.

Não te digo o que fazer, não espero obediência.
Só divido, com carinho, um pedaço da minha experiência.

Porque, às vezes, um aviso pode evitar uma dor.
E se minhas quedas servirem, que ao menos tenham valor.


domingo, 1 de junho de 2025

Monólogo em software.

É sempre à noite que essa conversa começa. A casa silenciosa, a luz amarela da escrivaninha acende como um farol tímido, onde me sento diante do monitor em hipóteses sobre mim. Ali, naquele canto destinado às reflexões sobre minha vida, meus dedos inconscientes descortinam o teclado, que talvez em papéis nunca fossem lidos neste embate monólogo, onde palavras transcritas digladiam-se com minhas concepções. Tenho um temperamento estranho. Às vezes, sou calmo como a xícara morna que acompanha minhas noites; outras vezes, eu borbulho por dentro, que nem água, prestes a ferver. Não sou feito de um só humor, e acho que ninguém é. Há dias em que minha paciência cabe em oceanos e outros em que uma gota me transborda. Ainda assim, tento sempre escolher a bondade. Não por obrigação, mas por convicção. Porque sei que o mundo já tem farpas demais, e que ser gentil é uma espécie de resistência silente. O amor? Ah! Esse é um capítulo à parte. Amo profundamente, daqueles amores que se escrevem com inúmeras letras grandes e sublinhadas em negrito. Não sei amar pela metade, talvez por isso me machuque às vezes. Mas também por isso tudo ganha cor. Amar, para mim, é se permitir ser vulnerável, sem vergonha. É querer estar, escutar, cuidar. Não importa se o amor é romântico, fraterno ou feito só de presença. Ele sempre me atravessa inteiro. E os desejos? Esses não me deixam dormir cedo. Almejo uma vida que faça sentido, não apenas que siga o fluxo. Quero ser útil, deixar marcas boas nas pessoas, fazer alguém sorrir em dias nublados. Desejo liberdade, mas também abrigo. Espero ser compreendido, ainda que eu mesmo nem sempre me entenda. Às vezes, termino a noite sem respostas. Fecho o velho notebook, apago a luz da escrivaninha e sigo com o peito mais leve. Outras vezes, fico lá, em silêncio, apenas me escutando. Porque, no fim, essa conversa comigo mesmo é o jeito mais sincero de continuar me construindo, desfazendo barreiras e dúvidas sobre mim.

sábado, 31 de maio de 2025

O síndico e o dilúvio.

Naquela fria manhã, as covas do campo santo pareciam sorrir. Estavam todas abertas, famintas, como se o chão tivesse aprendido a engolir tragédias com apetite de costume. Os quatro agentes do presídio perpétuo estavam lá, a postos. Imóveis e impassíveis, só observando em expectativa o desfecho do féretro. Para eles, era só mais um dia de trabalho. Ávidos por mais gorjetas. Além disso, corpos inertes, em silêncios sepulcrais. A caravana de ataúdes vinha vagarosamente, como se o tempo também tivesse entrado em luto. Não sou bom de matemática, mas contei trezentos esquifes. Todos iguais, sem nome, sem flor, em desbotada madeira crua. Era o sepultamento de um condomínio, literalmente. Esse cortejo fúnebre atravessava a cidade levando o peso do fracasso coletivo. Antes disso, aquele lugar transmitia orgulho aos proprietários. Ruas limpas, blocos organizados, um parquinho pintado com as cores da esperança. Morar ali era estar a um passo acima do caos urbano. Mas por dentro, o concreto se desfazia como confiança em político velho. Canos estourados, paredes infiltradas, promessas adiadas. O síndico sorria, dizia que tudo estava "no planejamento", com voz e ajuda de PowerPoint e alma enganosa de planilha. Um mestre das palavras, daqueles que fazem até rachadura parecer charme, povoando as mentes de condôminos em verdades inexistentes, como se sempre fosse mais fácil ouvir palavras bonitas do que encarar mofo no teto. Até que veio a noite do dilúvio. Choveu como se o céu quisesse lavar a alma da cidade à força. O sistema de drenagem, aquele "garantido" com tanta certeza, colapsou na primeira hora. A água subiu. Os gritos também. E, quando as luzes se apagaram, cada morador percebeu que não tinha saída. Nem pelas escadas, sequer pelas promessas. O síndico, dizem, ficou trancado no escritório. Morreu assistindo tudo pelas câmeras de segurança. Até nisso, foi irônico: faleceu olhando para o desespero que ajudou a construir. No dia seguinte, não sobraram vozes, só caixões. E, no último deles, o seu corpo, anônimo, foi enterrado com a mesma madeira crua com que enterrou a confiança de todos. Mas, como toda crônica triste precisa terminar com algum sinal de recomeço, deixo aqui o detalhe que pode mudar a história: o despertador tocou, eu acordei molhado de suor e espantado. Não havia lama nos corredores, nem caixões na portaria. Apenas o eco de um pesadelo com crianças em alvoroço nos arredores dos prédios e as mesmices, de sempre.

 

sexta-feira, 30 de maio de 2025

As pesadas escolhas.

No instante em que escolhemos.
Tudo parece leve, fugaz.
Um gesto simples, um passo breve.
Sem pensar no que vem atrás.

Palavras ditas sem medida.
Silêncios guardados demais.
Desvios tomados na vida.
Que não voltam nunca mais.

Cada ato é uma semente.
Lançada ao solo do tempo.
Cresce calada, paciente.
Até se tornar momento.

E quando floresce, enfim, o fruto.
Nem sempre é doce o sabor.
Descobrimos, num minuto.
O real do que causou.

Ah, se soubéssemos antes.
O peso de decidir.
Mas só aprendemos adiante.
Quando é tarde para fugir.

Por isso, pense, respire, espere.
Antes de qualquer direção.
Escolhas moldam o destino.
E pesam no coração.

 


quinta-feira, 29 de maio de 2025

O hiato entre a volta e a saida

Na espessura do tempo, tua alma se perde. Entre o que é voltar e o que é partir. A volta, com seus braços de ferro e medo, é como um eco que não se apaga, mas persiste. O que é o retorno senão uma prisão disfarçada? O passo dado de volta é uma reverência à dor, onde a saudade se veste de prisão e ilusão. E o ontem se estende como um véu opressor. Há uma saída, mas ela é apenas uma linha tênue, bordada de incerteza, tingida de coragem. Teu olhar, contudo, se perde na paisagem do passado, onde a segurança do familiar te arrasta sem palavras. Mas, mulher, tu és feita de horizontes distantes. E o peso da volta é leve ao toque de tua vontade. No fio da decisão a luz se entreabre tímida. E a saída, ainda que incerta, é um sopro que liberta. Não temas o não retorno, pois teu ser é um ato de fé, onde cada escolha é um refúgio e um voo. A volta pode ser uma sombra, mas tu és sol e todo sol, por mais escondido, sempre se ergue.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

A força do talento.

Cada ser humano tem diversificados talentos em sua vida. Uns se destacam com palavras, outros com números, alguns por empatia, outros por criatividade ou com a habilidade de fazer o que poucos conseguem. O ouvir, cuidar, organizar, inspirar, entre outros, faz parte desse contexto. É justamente essa diversidade de talentos que torna a nossa vida tão rica e cheia de possibilidades. Você não precisa ser bom em tudo. Precisa apenas reconhecer aquilo que lhe faz especial. Todos nós temos algo valioso a oferecer. Às vezes, o talento se revela cedo. Outras vezes, ele aparece aos poucos, com o tempo, com as vivências, com os desafios que se encontram sem que percebamos dessa competência e habilidades. A jornada de descoberta é parte da beleza de viver. O mais importante é entender que os nossos talentos não precisam ser iguais aos dos outros para terem valor, que se equivalem, penso eu. O mundo precisa de pessoas diferentes, com forças diferentes, trabalhando juntas. É nessa mistura de dons e compreensões de perspectivas que surgem as grandes ideias, os projetos transformadores e as conexões verdadeiras. Não subestime o seu potencial. Acredite no que você tem de único. Às vezes, aquilo que parece pequeno aos seus olhos pode ser exatamente o que o mundo precisa. Honre e sempre acredite nos seus talentos, cultive-os, compartilhe-os e nunca se esqueça de que o que nos torna diferentes também nos fortalece. A multiplicidade de vocações é um presente da vida. Valorize o que é seu. Engrandeça o que é do outro, para que todos em coesão construam um mundo mais criativo, mais justo e mais humano, de todos os esforços dispendidos.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

O pouco da minha riqueza, é maior que o mundo.

Aprendi com o tempo e o silêncio. Que há grandeza em viver com pouco, não por falta, mas por escolha. Em tempo algum, por renúncia, mas por liberdade. O que preciso cabe no coração, e o que não cabe, eu aprendi a deixar. O supérfluo pesa, o essencial sustenta. E é no essencial que mora a paz. Não corro mais atrás do que brilha. Prefiro o que acalma. Não coleciono coisas. Coleciono instantes. Cada necessidade que deixo para trás me devolve um pedaço de mim. E nesse vazio fértil, descubro a plenitude. Quem precisa de pouco, já tem tudo. Minhas poucas necessidades são minhas verdadeiras riquezas. Conto a liberdade de não precisar demais, mas consigo viver em paz.

 

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Calúnia e desonra.

Há quem escolha ferir sem cortar. Há palavras que ferem como lâminas. Matar reputações com dizeres frios de mentiras. Não cortam a pele, mas rasgam o ser, entre a injúria e a difamação, onde habita o veneno sutil do desrespeito. A injúria é um ataque direto. Cilada vestida de verdade. É o dedo apontado, o grito no rosto. Acusação sem prova, veneno sem cura. É o insulto que chama nomes. Veem com olhos que julgam. Bocas que espalham venenos indecorosos e ouvidos que aceitam sem pensar. A difamação rouba o que é mais valioso: o nome, a confiança e o respeito, que tenta apagar a dignidade de uma pessoa de bem, com a força da raiva. Mas a verdade é paciente. Ela espera firme, entre os escombros. Porque a honra não se apaga fácil, e a justiça, embora tardia, vem com a força de quem não esquece. Portanto, o tempo sempre será a voz da razão, mesmo que seres humanos, se é que podem ser tratados assim, com mentes inescrupulosas, dissertem suas retidões de caráter. Essas pessoas são dotadas de irracionalidades.

O tempo em nossas vidas.

O tempo, silencioso e imparcial, caminha ao nosso lado desde o primeiro sopro de vida. Não faz alarde, não se apressa, mas nunca para. Com ele, vem à experiência, a sabedoria, a compreensão do mundo e, pouco a pouco, o desgaste do corpo que o abriga. Cada linha no rosto é uma história. Cada dor nas articulações é um capítulo vivido. A mente se torna mais lúcida, mais ponderada, enquanto o corpo, outrora ágil, passa a obedecer com mais lentidão. É como se a ocasião, ao nos ensinar a ver a vida com mais clareza, exigisse algo em troca: a juventude, a força, a ilusão da eternidade. Talvez seja esse o equilíbrio, e só podemos entender a vida quando já não temos tanto dela pela frente. A sapiência do tempo não é cruel por maldade, mas por necessidade. Ele não destrói por prazer, mas molda, transforma, prepara. Ele ensina-nos que tudo é impermanente, inclusive nós mesmos. E ainda assim, é nesse contraste entre a sabedoria crescente e a fragilidade do corpo que reside a beleza da existência. Porque saber que somos finitos dá sentido ao agora. E, no fim, é a alma que carrega os vestígios das rugas não como cicatrizes, mas como medalhas de quem viveu mesmo que intensamente.


terça-feira, 6 de maio de 2025

Carta ao amor

Hoje pensei no número dois. Tão simples, tão discreto, mas com um poder que poucos percebem. Ele é o único número par que é também primo, uma raridade, uma exceção. Assim como o que sentimos: algo que foge às regras, que desafia o esperado. Dois. Como nós. Duas almas, dois corpos, dois mundos que se encontraram sem manual, sem previsão. O dois simboliza união. Representa o encontro, não para se perder, mas para caminhar lado a lado. Dois olhares que se buscam. Duas mãos que se tocam. Dois corações que, em sintonia, aprendem a bater num só compasso. Ser par e ainda assim ser primo é como amar: É ser parte de algo maior e, ao mesmo tempo, manter a própria essência. É estar junto, sem se anular. É dividir a vida, sem perder o que se é. É encontrar no outro o complemento que o mundo inteiro não soube dar. O dois, nos ensina que o amor verdadeiro não é comum. É raro. É especial. É escolha. E nós adoramos ler e interpretar esta carta, praticamente, todos os dias de nossas vidas, sem divisões e apreensões, em indissolúvel união.

 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Eu adormeci com a saudade.

Na minha cama fria, os pensamentos são quentes. Chegam antes dos sonhos, se espremem entre o cansaço e o molhado travesseiro, que sussurra seu nome no escuro. A noite inteira é um eco do que já foi. Cada suspiro meu, em vão, tenta alcançar o silêncio que você deixou. Como um grito contido, fecho os olhos, não por querer dormir, mas por não suportar mais acordar nesse vazio. Recrio seu rosto nos tetos, nas paredes, nas dobras do lençol. Você se faz presente em tudo o que me falta. A sua ausência, essa estranha companhia, tem cheiro de lembrança e gosto de tempo perdido. A madrugada é uma tela onde desenho memórias com os dedos da mente. Os seus olhos ainda sabem dos segredos e caminhos, até os meus, mesmo que apenas na ilusão das lembranças. Seu riso se esconde entre os ruídos do meu silêncio noturno. Tudo arde em mim, como se meu corpo sentisse o calor de você, que partiu. O tempo não cicatriza, ele apenas reorganiza a dor em novas formas, mais sutis ou mais densas. Ao amanhecer, mais uma ausência! A luz do sol ativa minhas conturbadas memórias de alguém que partiu sem dizer adeus.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Quando se escuta a verdade, isso se transforma em um pesadelo.

A verdade é um assunto intrincado, e frequentemente a resposta das pessoas ao confrontá-la pode ser desconfortável ou até mesmo rejeitada. Em diversas circunstâncias, não é que as pessoas "não gostem" de escutá-la, mas que ela pode abordar temas sensíveis, questionando convicções, costumes ou até mesmo a identidade de quem a ouve. A veracidade frequentemente expõe algo que não queremos admitir. Pode ser um erro nosso, uma precisão desconfortável sobre uma relação ou uma circunstância desafiadora da vida. Este embate com algo que nos incomoda costuma provocar resistência. Quando o acontecimento impacta diretamente a nossa autoconfiança ou as nossas convicções mais íntimas, temos uma inclinação inata para negá-lo ou, pelo menos, questioná-lo. A aceitação total da realidade requer bravura, algo que nem sempre estamos prontos para encarar, especialmente quando ela contrapõe nossa perspectiva de mundo. Frequentemente, ouvir a verdade implica enfrentar consequências que podem ser dolorosas. Isso explica, em parte, porque alguns indivíduos optam por viver na ilusão ou negar o ocorrido: o receio de sofrer futuramente parece mais intenso do que enfrentar a realidade no momento. Em termos psicológicos, nosso cérebro está intrinsecamente programado para procurar conforto e proteção. Frequentemente, a sinceridade do termo nos incomoda, e temos a tendência de nos distanciarmos para preservar a estabilidade emocional. A verdade dói, mas é necessária na vida do ser humano.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

O espelho das ilusões.

Às vezes, a vida nos oferece um espelho em que as imagens são mais sonhos do que realidades. Olhei para essa moldura por muito tempo, esperando que ela me revelasse uma versão perfeita. Com o passar dos dias, percebi que as figuras desse quadro refletiam apenas sombras do que eu queria acreditar, e não as de que realmente sou. Chega-se ao ponto em que preciso pela necessidade de fazer as pazes com a verdade: as ilusões não são amigas da liberdade. Elas nos aprisionam em expectativas que nunca se concretizam, em sonhos que nunca acordam. A amarga verdade é o único caminho que me permite observar essas delimitações. Por mais doloroso que seja, estou me despedindo dessas ilusões. Elas foram parte de mim, talvez até necessárias em certo momento da minha vida. A cada adeus, um espaço é aberto para um pouco mais de real, algo que não se dissolve ao primeiro vento da realidade. Um tanto mais verdadeiro e capaz de me guiar sem enganos. Ao me retirar dessas ilusões, descubro uma força que antes desconhecia, sem máscaras, sem disfarces e livre para seguir a minha trajetória. Até no amor, um delírio inimaginável de devaneios. Durante muito tempo, acreditei que o amor fosse uma espécie de conto de fadas, onde dois corações se encontravam e, ao bater juntos, tudo se resolvia. Eu imaginava que o amor fosse à resposta para todas as minhas dúvidas, a cura para todas as minhas inseguranças. A vida, com seus próprios ensinamentos, me fez entender que o amor é mais complexo do que a ilusão que eu alimentava à ideia de que ele sempre foi fácil, sem conflitos, sem momentos difíceis, na crença de que ele deve ser perfeito e imaculado, sem falhas ou desentendimentos. Creio que estou me acostumando com a expectativa de que o amor sempre será aquela sensação arrebatadora, que nunca se perde, que nunca se transforma.

 

domingo, 13 de abril de 2025

O tempo, no meu tempo.

Para mim, o tempo é o agora que pulsa. É o instante que vive, antes de virar lembrança. Ele se despede ao cair da ação e, silente, transforma tudo em passado. Acordo com a velha filmadora ocular, gravando minha vida em ‘cinemascope’, só o roteiro único da realidade. Nos primeiros raios de sol, sou saudado por meus telespectadores, radiantes, fiéis, que, por gentileza ou encanto, seguem minhas cenas com olhos de afeto. Eles me lisonjeiam. Fazem-me sorrir. Na retina, uma fita magnética gira, marcando instantes de lazer, momentos simples, mas eternos. Sem dublês, sem cortes, enfrento cada quadro com coragem, com a alma aberta, sem efeitos que escondam meus tropeços, sem máscaras que disfarçam meu ser. Sou protagonista. Sou autor, sou um peregrino da esperança. O tempo, este diretor que não me ordena, que não exige pressa, apenas me guia, com passos mansos, sem cobrar ensaios. Abro a janela da sala, onde flores e essências me cercam. E nelas, encontro paz, que me transborda em pequenas felicidades, em suaves realizações. Não me iludo com o tempo. Contorno seus labirintos com resiliência, porque quero sempre vencer obstáculos. Sou fiel à minha história, e as vozes que me julgam de longe são apenas ecos, que se dissipam no vasto silêncio do meu próprio ser. E assim, quando a noite descerra o pano e a película encerra mais um ciclo, encaro o tempo momentaneamente, mas sempre real, e belo enquanto sou eu quem vive cada cena das realidades da vida sem choro, mas com emoção.


quinta-feira, 10 de abril de 2025

O meu bloco de carnaval.

Hoje é um dia especial. Eu quase não dormi. Acordei bem cedo. É o primeiro dia de carnaval. Espero ansiosamente pelo bloco da esperança com as emoções renovadas, onde a alegria me extasia com a passagem da minha amada ‘colombina’, que sempre desfila com graça e exuberância em meus sonhos de prazer e que por instantes iluminará esse meu grande dia de ansiedade e muita gratidão de novamente revê-la. Estou fantasiado de ‘arlequim’, com cores e brilhos, aquele que procura sua amada em palcos de teatros, mas introspectivo e honesto, como ‘pierrô’, apesar de guardar um sentimento puro e profundo, declarado em cartas que nunca foram entregues por sofrer várias desilusões amorosas. Embora eu esteja convicto dessa atração de paixão ardente, por onde a distância se interpõe, há um silêncio entre mim e ela. Nessa grande festividade, fez-me refletir sobre os blocos de sujo, em que os mascarados escolhem cuidadosamente o que mostrar e o que esconder. Alguns se vestem de sorrisos para ocultar dores, outros usam arrogância para disfarçar inseguranças. Cada um constrói sua própria ilusão, ajustando a máscara conforme a ocasião. O meu disfarce na fantasia, no teatro da vida, meus sentimentos são eternos, embora incompreendidos.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Dramas da terceira idade.

A velhice chegou! Os músculos flácidos por desgaste proporcionado pelo tempo anunciam um novo estilo de vida. As doenças e limitações, agora recorrentes, retornam e atacam quaisquer corpos debilitados, com muita força e de forma inexorável. Faço ginástica, fisioterapia. Procuro manter a saúde do corpo e da mente para uma melhor qualidade de vida. Penso eu que prosseguir com exercícios, para melhorar a mobilidade e fortalecer o corpo, é essencial para o pessoal da melhor idade. Faço várias atividades. Gosto de escrever, ler bons livros, visitar logradouros públicos da minha cidade, assistir filmes interessantes da sétima arte. Não ligo para redes sociais. Essas já não me influenciam. Tenho meus próprios pensamentos adquiridos com a sabedoria e independência, e que valorizo pelo tempo da minha vida, sem me preocupar com interferências externas. Estou resignado e satisfeito com a minha idade. O tempo me fez entender que a maturidade alinhada às minhas limitações físicas e inspirações são enriquecedoras para aproveitar uma forma saudável de envelhecer. No final da vida, o mar sempre será de almirante, com ondas imprevisíveis, onde somos os comandantes da nossa própria navegação, escolhendo como enfrentar as marés da vida, com sapiência e resiliência. 

Uma dor silenciosa.

O brilhoso tapete de cores vivas atrás da minha porta ainda adorna o meu quarto, que um dia foi momento de prazer; continua frio e ondulado por nossos movimentos íntimos, extravasados de ânsias voluptuosas, em testemunho silencioso de desejos e apreensões. O seu adeus, o último suspiro que a ausência do seu calor entre suspiros e caladas como a noite nos preservava, emudeceu-me em devaneios. Cada ruga na superfície da aconchegante lã ao chão parece refletir um instante perdido, em que nossos corpos se entrelaçavam em um silêncio profundo, que a noite envolvia nossa intimidade com um manto de segredo e calmaria. Agora, tudo é quietude, e a falta do seu calor ainda se faz presente, como um eco distante de um tempo que se foi, mas deixou seu rastro. Não mais nas suas palavras ou gestos, mas no toque silencioso da memória, gravado nas ondulações daquele que, ao pé da nossa cama, nos protegia de males quaisquer. A noite, sem você, se tornou apenas um pano de fundo frio, sem os mesmos sussurros, sem o mesmo calor. Já não durmo na minha cama. As saudades do seu rosto, no chão, onde a poeira instalou-se de forma definitiva na minha vida, assentada ao seu suor que energizava o meu coração em calores de intimidades e emoções. Uma pena tê-la perdido em palavras saudosistas de paixões, as cores vivas do meu coração.

sábado, 29 de março de 2025

A foto da saudade.

Com as mãos trêmulas, eu seguro a sua antiga foto, quase viva, em minhas mãos, como se o tempo tivesse parado por uma ilusão e por um momento. Um amor desprendido ao espaço, vagando sem destino, sem limites e sem retorno. Pedaços de mim se desfazem ao tocar essa lembrança, como se cada fragmento se soltasse, perdendo-se na imensidão do que já não é mais. O cheiro da saudade é como um eco, que ressoa, mas não preenche o vazio que ficou. Naquele retrato, somos inteiros, antes da despedida, antes das palavras não ditas. E, agora, o que resta é o silêncio, esse que fica entre as linhas do passado e as que jamais foram escritas. Às vezes, fecho os olhos e quase posso ouvir sua voz, mas sei que é uma ilusão, uma sombra do que se foi. A foto, no entanto, me mantém conectado, me lembra do que fomos, do que sou mesmo sem você. E assim, nesse instante suspenso, revivo uma parte de mim que ainda lhe espera, mesmo sem saber se há algo para esperar. Se o amor é fantasia, eu me encontro em pleno carnaval. A minha saudade em grande desfile, cheia de cores e sentimentos, no que a minha realidade se transformou em agonia e tristeza. Por isso, hoje, na mesa de um botequim, procuro esquecer, em goles amargos, libertando essa derrota, a profunda marca em meu dilacerado coração, por um pranto de emoções contundentes. A vida é assim. Não escolhemos o nosso destino, da mesma forma em que a lua desnuda a superfície, que julgamos impenetrável, ela aquece os corações de casais apaixonados em delírios mentais, como uma força misteriosa e avassaladora de prazer.