Não é verdade que os amores acabam. Eles apenas mudam de endereço. Um dia, cansados de morar no peito, fazem as malas sem aviso e se instalam na memória, onde ninguém os vê, mas onde tudo permanece. No coração, eles eram urgência. Exigiam presença obstinada, respostas, futuro. Na memória, tornam-se silêncio. Não cobram, não pedem, não discutem. Apenas existem. Às vezes dormem por anos, até que um cheiro, uma música ou um nome dito por acaso os acorde, lembrando que nunca partiram de fato. A gente aprende a seguir em frente achando que venceu. Novo amor, novos planos, outra rotina. Mas basta um detalhe fora do lugar para perceber que certos sentimentos não se dissolvem no tempo, penas se acomodam. Não machucam como antes, mas também não desaparecem. Estão ali, observando, quietos, como quem conhece demais para ser esquecido. Não se trata de saudade constante nem de desejo de retorno. É respeito. Amor antigo não pede volta, pede reconhecimento. Foi real. Foi inteiro. E por isso deixou vestígios. Quem tenta apagar o que viveu acaba apagando partes de si. Ao fim, entende-se. O coração precisa de espaço para continuar amando. A memória, não. Ela é território sem despejo. E é lá que os amores passados seguem vivendo. Não como dor, mas como prova de que um dia foi capaz, profundamente de sentir.
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