domingo, 1 de junho de 2025

Monólogo em software.

É sempre à noite que essa conversa começa. A casa silenciosa, a luz amarela da escrivaninha acende como um farol tímido, onde me sento diante do monitor em hipóteses sobre mim. Ali, naquele canto destinado às reflexões sobre minha vida, meus dedos inconscientes descortinam o teclado, que talvez em papéis nunca fossem lidos neste embate monólogo, onde palavras transcritas digladiam-se com minhas concepções. Tenho um temperamento estranho. Às vezes, sou calmo como a xícara morna que acompanha minhas noites; outras vezes, eu borbulho por dentro, que nem água, prestes a ferver. Não sou feito de um só humor, e acho que ninguém é. Há dias em que minha paciência cabe em oceanos e outros em que uma gota me transborda. Ainda assim, tento sempre escolher a bondade. Não por obrigação, mas por convicção. Porque sei que o mundo já tem farpas demais, e que ser gentil é uma espécie de resistência silente. O amor? Ah! Esse é um capítulo à parte. Amo profundamente, daqueles amores que se escrevem com inúmeras letras grandes e sublinhadas em negrito. Não sei amar pela metade, talvez por isso me machuque às vezes. Mas também por isso tudo ganha cor. Amar, para mim, é se permitir ser vulnerável, sem vergonha. É querer estar, escutar, cuidar. Não importa se o amor é romântico, fraterno ou feito só de presença. Ele sempre me atravessa inteiro. E os desejos? Esses não me deixam dormir cedo. Almejo uma vida que faça sentido, não apenas que siga o fluxo. Quero ser útil, deixar marcas boas nas pessoas, fazer alguém sorrir em dias nublados. Desejo liberdade, mas também abrigo. Espero ser compreendido, ainda que eu mesmo nem sempre me entenda. Às vezes, termino a noite sem respostas. Fecho o velho notebook, apago a luz da escrivaninha e sigo com o peito mais leve. Outras vezes, fico lá, em silêncio, apenas me escutando. Porque, no fim, essa conversa comigo mesmo é o jeito mais sincero de continuar me construindo, desfazendo barreiras e dúvidas sobre mim.

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