Com
as mãos trêmulas, eu seguro a sua antiga foto, quase viva, em minhas mãos, como
se o tempo tivesse parado por uma ilusão e por um momento. Um amor desprendido
ao espaço, vagando sem destino, sem limites e sem retorno. Pedaços de mim se
desfazem ao tocar essa lembrança, como se cada fragmento se soltasse,
perdendo-se na imensidão do que já não é mais. O cheiro da saudade é como um
eco, que ressoa, mas não preenche o vazio que ficou. Naquele retrato, somos
inteiros, antes da despedida, antes das palavras não ditas. E, agora, o que
resta é o silêncio, esse que fica entre as linhas do passado e as que jamais
foram escritas. Às vezes, fecho os olhos e quase posso ouvir sua voz, mas sei
que é uma ilusão, uma sombra do que se foi. A foto, no entanto, me mantém
conectado, me lembra do que fomos, do que sou mesmo sem você. E assim, nesse
instante suspenso, revivo uma parte de mim que ainda lhe espera, mesmo sem saber
se há algo para esperar. Se o amor é fantasia, eu me encontro em pleno
carnaval. A minha saudade em grande desfile, cheia de cores e sentimentos, no
que a minha realidade se transformou em agonia e tristeza. Por isso, hoje, na
mesa de um botequim, procuro esquecer, em goles amargos, libertando essa
derrota, a profunda marca em meu dilacerado coração, por um pranto de emoções
contundentes. A vida é assim. Não escolhemos o nosso destino, da mesma forma em
que a lua desnuda a superfície, que julgamos impenetrável, ela aquece os
corações de casais apaixonados em delírios mentais, como uma força misteriosa e
avassaladora de prazer.
sábado, 29 de março de 2025
A foto da saudade.
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