A velhice chegou! Os músculos flácidos por desgaste proporcionado pelo tempo anunciam um novo estilo de vida. As doenças e limitações, agora recorrentes, retornam e atacam quaisquer corpos debilitados, com muita força e de forma inexorável. Faço ginástica, fisioterapia. Procuro manter a saúde do corpo e da mente para uma melhor qualidade de vida. Penso eu que prosseguir com exercícios, para melhorar a mobilidade e fortalecer o corpo, é essencial para o pessoal da melhor idade. Faço várias atividades. Gosto de escrever, ler bons livros, visitar logradouros públicos da minha cidade, assistir filmes interessantes da sétima arte. Não ligo para redes sociais. Essas já não me influenciam. Tenho meus próprios pensamentos adquiridos com a sabedoria e independência, e que valorizo pelo tempo da minha vida, sem me preocupar com interferências externas. Estou resignado e satisfeito com a minha idade. O tempo me fez entender que a maturidade alinhada às minhas limitações físicas e inspirações são enriquecedoras para aproveitar uma forma saudável de envelhecer. No final da vida, o mar sempre será de almirante, com ondas imprevisíveis, onde somos os comandantes da nossa própria navegação, escolhendo como enfrentar as marés da vida, com sapiência e resiliência.
segunda-feira, 31 de março de 2025
Uma dor silenciosa.
O brilhoso tapete de cores vivas atrás da minha porta ainda adorna o meu quarto, que um dia foi momento de prazer; continua frio e ondulado por nossos movimentos íntimos, extravasados de ânsias voluptuosas, em testemunho silencioso de desejos e apreensões. O seu adeus, o último suspiro que a ausência do seu calor entre suspiros e caladas como a noite nos preservava, emudeceu-me em devaneios. Cada ruga na superfície da aconchegante lã ao chão parece refletir um instante perdido, em que nossos corpos se entrelaçavam em um silêncio profundo, que a noite envolvia nossa intimidade com um manto de segredo e calmaria. Agora, tudo é quietude, e a falta do seu calor ainda se faz presente, como um eco distante de um tempo que se foi, mas deixou seu rastro. Não mais nas suas palavras ou gestos, mas no toque silencioso da memória, gravado nas ondulações daquele que, ao pé da nossa cama, nos protegia de males quaisquer. A noite, sem você, se tornou apenas um pano de fundo frio, sem os mesmos sussurros, sem o mesmo calor. Já não durmo na minha cama. As saudades do seu rosto, no chão, onde a poeira instalou-se de forma definitiva na minha vida, assentada ao seu suor que energizava o meu coração em calores de intimidades e emoções. Uma pena tê-la perdido em palavras saudosistas de paixões, as cores vivas do meu coração.
sábado, 29 de março de 2025
A foto da saudade.
Com
as mãos trêmulas, eu seguro a sua antiga foto, quase viva, em minhas mãos, como
se o tempo tivesse parado por uma ilusão e por um momento. Um amor desprendido
ao espaço, vagando sem destino, sem limites e sem retorno. Pedaços de mim se
desfazem ao tocar essa lembrança, como se cada fragmento se soltasse,
perdendo-se na imensidão do que já não é mais. O cheiro da saudade é como um
eco, que ressoa, mas não preenche o vazio que ficou. Naquele retrato, somos
inteiros, antes da despedida, antes das palavras não ditas. E, agora, o que
resta é o silêncio, esse que fica entre as linhas do passado e as que jamais
foram escritas. Às vezes, fecho os olhos e quase posso ouvir sua voz, mas sei
que é uma ilusão, uma sombra do que se foi. A foto, no entanto, me mantém
conectado, me lembra do que fomos, do que sou mesmo sem você. E assim, nesse
instante suspenso, revivo uma parte de mim que ainda lhe espera, mesmo sem saber
se há algo para esperar. Se o amor é fantasia, eu me encontro em pleno
carnaval. A minha saudade em grande desfile, cheia de cores e sentimentos, no
que a minha realidade se transformou em agonia e tristeza. Por isso, hoje, na
mesa de um botequim, procuro esquecer, em goles amargos, libertando essa
derrota, a profunda marca em meu dilacerado coração, por um pranto de emoções
contundentes. A vida é assim. Não escolhemos o nosso destino, da mesma forma em
que a lua desnuda a superfície, que julgamos impenetrável, ela aquece os
corações de casais apaixonados em delírios mentais, como uma força misteriosa e
avassaladora de prazer.
sexta-feira, 28 de março de 2025
A política e o judiciário confundem alhos com bugalhos.
Em tempos de polarização, muitas
vezes vemos discursos políticos que buscam criar divisões artificiais, tratando
temas complexos como se fossem simples, ou fazendo comparações entre opostos
que não se sustentam na realidade. Isso pode enganar a população e gerar um
ambiente onde é difícil alcançar consensos ou propor soluções verdadeiramente
eficazes. A confusão entre alhos e bugalhos na política também pode ser uma
estratégia de desinformação. Ao misturar argumentos e distorcer fatos, é mais
fácil manipular a opinião pública, criar incertezas e distrações, afastando o
foco das questões essenciais. No fim, o resultado é uma política que se perde
em simplificações e comparações equivocadas, dificultando o progresso e o
entendimento real das necessidades da sociedade. A política deveria ser o
espaço para discutir ideias de forma clara e racional, sem confundir aquilo que
é realmente importante com questões periféricas ou irrelevantes. A questão do
STF (Supremo Tribunal Federal) gerar insegurança jurídica na política é um tema
muito debatido no Brasil. A insegurança jurídica ocorre quando há falta de
clareza ou previsibilidade nas decisões tomadas pelos tribunais, especialmente
nas jurisdições mais altas, como o STF. Isso pode gerar um ambiente de
incerteza, no qual cidadãos, empresas e até mesmo os próprios governantes não
sabem exatamente como a lei será interpretada ou aplicada, o que pode afetar
negativamente a confiança no sistema judicial e nas políticas públicas. No caso
do STF, a alegação de insegurança jurídica está muitas vezes relacionada à
interpretação das leis e à forma como decisões são tomadas pelo Tribunal.
Algumas questões alimentam esse debate, inclusive quando o STF determina e
parece ir contra a jurisprudência estabelecida ou de outras instâncias, criando
uma percepção de imprevisibilidade. Isso ocorre, por exemplo, quando o Tribunal
decide questões que envolvem a interpretação de normas constitucionais de
maneira que contradiz decisões anteriores, ou quando as interpretações são
vistas como muito amplas ou imprecisas. Outra crítica é o que muitos chamam de
"ativismo judicial", quando o STF delibera decisões que vão além da
sua função de interpretar a Constituição, passando a atuar de maneira mais
proativa em questões políticas e sociais. Isso pode ser visto como uma
usurpação das funções do Legislativo e do Executivo, além de gerar insegurança
quanto à separação dos Poderes. Em alguns casos, decisões do STF podem ser interpretadas
como um "legislar", em algo que não é da sua competência. O STF, como
guardião da Constituição, tem o papel de interpretar a Carta Magna, mas há
momentos em que suas decisões podem ser vistas como muito subjetivas,
principalmente quando se trata de temas polêmicos, como direitos fundamentais,
reformas econômicas e até mesmo questões políticas. Quando os ministros do STF
adotam diferentes posições sobre o mesmo assunto, isso pode gerar a sensação de
que a interpretação da Constituição é volúvel. Como o STF tem a capacidade de
decidir sobre questões políticas relevantes, sua atuação pode ser vista como
uma forma de intervenção na política. Decisões que envolvem o impeachment de
presidentes, a cassação de mandatos ou a interpretação de regras eleitorais,
por exemplo, podem gerar tensões políticas, especialmente quando os partidos ou
os governos envolvidos não concordam com os posicionamentos da Corte. Em
situações em que o STF decide questões fundamentais de forma inesperada, com
base em interpretações novas ou surpreendentes, há um sentimento de que o
direito não é estável, o que gera insegurança jurídica. A decisão que envolveu
a prisão após condenação em segunda instância, por exemplo, gerou muita
controvérsia, pois foi alterada diversas vezes ao longo do tempo. Por outro
lado, há quem defenda que o STF age dentro de sua função de interpretar a
Constituição e que suas decisões são necessárias para garantir os direitos
constitucionais, especialmente quando o Legislativo ou o Executivo não atuam de
forma eficaz para resolver questões de interesse público. De acordo com essa
visão, a atuação do STF, mesmo que gere desconforto ou controvérsias, é essencial
para a manutenção do Estado de Direito e da democracia. Em julgamentos
decisivos em indiciamentos contra o ex-presidente Bolsonaro, essa metáfora é
bem-vinda para o momento contemporâneo.
quarta-feira, 26 de março de 2025
Os medos da velhice.
Hoje, eu sinto que aqueles transtornos, provocados pelo tempo e pelas euforias da velhice, atingiram-me em cheio. As atividades cotidianas que antes me traziam prazer já não são prevalentes. Já não sinto ânimo para dedilhar as minhas rotinas e vivências da vida, das minhas canções, prosas e versos, no meu companheiro de pinho envernizado, e até mesmo do meu teclado, onde as notas musicais brilham os meus olhos, vidrados em música, e que ambos foram presenteados por filhos, que sempre me incentivaram musicalmente. O meu cérebro, ainda ativo, não é como as cordas musicais desafinadas em escalas. É extensão de minhas emoções desalinhadas, nesse sentido. O medo, a apatia e a ansiedade não me causam preocupações, assim como a irritabilidade e o isolamento, nessa aceitação silenciosa da transição normatizada do ser humano, nas impermanências da vida. A minha preocupação sempre será a perda de memória, um temor de que minha identidade se apague para sempre. Por isso, eu procuro exercitar cotidiana e exaustivamente no teclado do meu velho notebook, o que me resta de saudades e resgates, que um dia, fluíram com mais facilidade e harmonia. Mesmo que meu futuro seja incerto, eu sigo com sabedoria, aceitação da minha idade e, principalmente, o amor que eu tento passar aos meus herdeiros e amigos, que sempre me proporcionaram alegrias, no que creio enxergar os dias e as noites, o farol, que ilumina e sinaliza a minha mente, sem apagões prematuros.
terça-feira, 25 de março de 2025
Nem tudo são flores.
Estou na esquina da sua vida. Sempre a desejar-lhe as multicoloridas adorações. Nesse mistério, em que você me urdiu os seus segredos, os quais nos tornaram cúmplices de dilemas e atitudes, devasta a minha emoção em intensidade emocional. Nas ruas dos desenganos, onde sou um viajante perdido numa trilha, em busca de mais uma vez, do nosso encontro em que estou perdido nas sombras de um grito silenciado. Nessa incompreensão em que o tempo inimigo me traz lembranças e sensação de perda. Sou aquele que persegue expectativas. Sou também resiliente aos dias amargos que me fazem sofrer, agora com sua ausência. As flores do meu jardim mal desabrocharam e perdem-se despetaladas pelos ventos da sua essência e a sua capacidade de iludir, também, seus desejos imperados de renúncias em sua vida. No palco da minha vida, os monólogos, em isolamento profundo, são constantes, sem aplausos e sem receptividade. Eu aceito o seu enigma, a sua temperança de controlar suas atitudes e reações. Sou perseguido por ironias e talvez por piedade. O que esconde a sombra do meu coração nesse labirinto de emoções? Procuro ficar sentado em quaisquer ângulos da rua, por onde almas em desequilíbrio por vários motivos passam por mim, que invisível, denota o perdão aos sobreviventes, pela falta de amor. Sou mais um viajante à procura da alma, um novo espelho e coragem para recomeçar. Um reencontro com a realidade de sentimentos, na cura das minhas ansiedades e aflições.
Estratégia malsucedida.
Sabe aqueles dias em que a gente acorda sem perspectivas? Hoje, eu me sinto assim. São problemas de saúde e de justiça que se acumulam diariamente na minha vida. Fui acometido de hiperplasia benigna desde 2013, e até hoje não foi possível resolver o meu problema pelo ‘SUS’. Eu recebi uma oferta de um urologista particular para realizar o procedimento, que era muito caro para meu orçamento. Por ora, eu estou sem dinheiro. Participei de leilão público em 2010. Naquela época, eu tinha um dinheiro sobrando na minha conta e arrematei uma casa em ‘Vila Valqueire’, num bucólico bairro próximo a onde resido. Naquela época, eu não sabia da minha doença. Esse leilão teve consequências graves para mim. Fiz o conserto estrutural da casa, com trocas de rede elétrica, sanitária e hidráulica. Aproximadamente seis meses depois, apareceu na minha casa o ‘Oficial de Justiça’ e queria que eu assinasse a intimação, julgando que eu era invasor. Retirei imediatamente o pedreiro e seu ajudante das suas atividades, no interior da casa, e solicitei ao oficial da lei que me aguardasse, pois eu iria à minha casa para levar até ele a minha escritura, registrada em cartório com o meu nome como arrematador. Quando ele viu o documento, fez algumas anotações na intimação e disse-me que eu perderia a casa, porque ela havia sido arrematada um ano antes da segunda arrematação em cartórios distintos, apesar de ter registro mencionado em nome do primeiro arrematante. Ele estava certo. Eu perdi a minha casa e a ilusão depois de prolongada luta no cartório, e a tese de ‘só é dono, quem registra’, caiu por terra. O primeiro arrematante reside na Avenida Atlântica em ‘Copacabana’ e sua amizade com membros do judiciário foi fundamental, o que facilitou as manobras no meu prejudicado processo. Sei também das podridões dos meios políticos e do judiciário da nossa falsa democracia, que contribuem para isso. Há dez anos, eu luto na justiça, através de várias petições, efetuadas pela assistência jurídica gratuita, na ‘Defensoria Pública’, para a devolução do meu dinheiro dispendido, com juros e correção monetária, além dos danos causados pela injustiça que me proporcionaram, dando-me a sensação de frustração e desamparo dos meios jurídicos, com falhas e adversidades somente para os desassistidos pela justiça em prol dos poderes monetários, nesse mundo capitalista.
domingo, 23 de março de 2025
A traição da mente.
A mente humana, embora um dos instrumentos mais poderosos da nossa existência, por muitas vezes é bem traiçoeira. Ela não é apenas um reflexo do que sabemos, mas também moldada por nossas crenças, emoções, experiências passadas e até mesmo pelo nosso inconsciente. Ocasionalmente, a mente nos leva a acreditar em coisas que não são verdadeiras, nos impede de enxergar a realidade ou forma distorções que afetam a nossa percepção do mundo. Quando a mente nos trai, ela se manifesta de diferentes formas. Pode ser por meio de pensamentos obsessivos, ansiedade, inseguranças infundadas ou até mesmo falsas memórias. A mente, ao tentar proteger-nos, pode nos envolver em medos que inexistem por criar barreiras emocionais que limitam nosso crescimento ou até nos enganar com ilusões de controle e perfeição. Em muitos casos, ela atua como uma espécie de filtro, distorcendo as informações de maneira que elas não correspondam à realidade. Isso ocorre, por exemplo, quando uma pessoa experimenta uma situação difícil e, devido à carga emocional, interpreta tudo o que acontece como negativo, mesmo que não seja. Outro exemplo claro está nas crenças limitantes. Muitas ocasiões, internalizamos ideias de fracasso ou incapacidade que não são verdadeiras, mas que se tornam uma realidade dentro de nossa mente, moldando as nossas ações e decisões. Isso ocorre porque a mente, com seus processos automáticos, gera um ciclo de reforço de padrões negativos. Por outro lado, a mente também pode nos trair ao nos convencer de que estamos em controle quando, na verdade, estamos sendo guiados por impulsos inconscientes. Nossas ações, momentaneamente, são mais influenciadas por nossos medos, desejos e instintos do que pela razão. Mas, ao reconhecer essas armadilhas mentais, podemos aprender a lidar com elas. A autorreflexão, a terapia, a meditação e outras práticas de autoconhecimento são ferramentas poderosas para entender e desafiar os enganos que nossa mente nos impõe. Quando conseguimos olhar para dentro com honestidade, podemos começar a desmascarar as mentiras que nossa mente conta e, assim, viver com mais clareza, liberdade e paz.
Porque, embora a mente possa nos
trair, também é através dela que encontramos a chave para a transformação e o
autoconhecimento. O desafio é aprender a navegar em suas armadilhas e descobrir
sua verdadeira força.
sábado, 22 de março de 2025
A cadeira do amor.
Sempre, às minhas refeições, relembro você, com muita saudade, ao observar a sua cadeira macia e almofadada, por ora vazia, em que antes acolhia seu corpo que me enchia de alegrias e desejos. Agora, um espaço silencioso, uma peça de museu, sem vibração. Aqui sempre foi o seu lugar. Apesar de eu estar diferente, ainda a espero na minha porta de ilusão. É muito triste viver sozinho. Sei que você tentou por várias vezes procurar em seu mundo as certezas de uma nova vida e ambições de que seus projetos fossem realizados. Essa sua dolorosa partida me transformou também. Já não sou aquela pessoa sonhadora que se contentava com a espera de carinhos e afetos, em trajetórias de dor. Alimento-me, diariamente, de sentimentos antigos, por nossas juras e promessas descumpridas. Hoje, eu sou aquela luz ofuscada pelo tempo. Já não ilumino os meus pensamentos, uma escuridão interior, abafada pela dor e pelo tempo. Se, por acaso, você bater um dia em minha porta, penso eu, que o peso da minha solidão se dissiparia novamente, como névoa ao sol, e a nossa casa, tão vazia e silenciosa, se encheria novamente de vida. No entanto, todas as manhãs, eu acordo com uma brisa diferente em meu rosto. Acho que estou à espera do seu retorno, talvez decepcionada com o infeliz moinho das suas esperanças e aspirações. Não importa! A sua cadeira sempre estará aqui, neste mesmo lugar que você deixou, por onde passamos bastantes dias felizes, abrigados de ternura e paz, alimentados e partilhados de motivações e envolvidos pelos mesmos sentimentos.
sexta-feira, 21 de março de 2025
Aniversário do meu amigo e compadre Ulisses Ferreira de Souza.
Hoje, um dia especial! Estive com amigos e parentes no salão de festa do anfitrião Ulisses, para comemorar seus oitenta e cinco anos. Eu o conheci na época em que ele exercia a chefia no setor de ‘Faturamento’ da extinta ‘Matriz da Fábrica Melhoral’. Companheiro de labuta e de grande caráter, que me ensinou tudo sobre toda a atividade da seção e, mais tarde, por afinidade, nos tornamos compadres. Minha mulher e eu batizamos a Tania. Chegamos lá, por volta das treze horas, onde já estavam seus demais colegas de outra grande empresa, ‘Petrofértil’, em que ele exerceu sua função na área de ‘compras’. E lá, no condomínio, juntamente com os parentes e amigos próximos no total de quatorze pessoas, fiquei feliz de também rever o amigo Antônio 'Paraíba', no auge de seus noventa e um anos, distribuindo simpatia. Um pouco mais, já com todos reunidos, surgiu o dono da festa. Há algum tempo eu não o via. Fiquei estarrecido e compadecido com o meu compadre. Ele estava sentado em uma cadeira de rodas, e aquilo mexeu comigo. Aquele homem, que esbanjava aquela energia e que sempre foi uma referência de força e liderança, tornou-se agora fisicamente mais fragilizado, com perda de movimento e visão. Todos nós o recebemos com aquele sorriso acolhedor. A homenagem seguiu com muita emoção, mas também com um clima de celebração da vida e da história que Ulisses construiu. Almoçamos um belo churrasco, patrocinados por Vania, Carlyle, Tania (minha afilhada) e seu neto Thiago. Tentei puxar conversa com meu ilustre compadre, para ativar a sua memória, e observei atentamente suas poucas palavras de resposta, embora mais lentas. Quase monossilábicas em voz suavizada pela idade. O tempo, o algoz de nossos sentidos, que passa e debilita o corpo que se enfraquece, não dá oportunidade de escaparmos de sua garra. A tarde passou em clima de reflexão e carinho, e todos nós, após o tradicional ‘Parabéns pra você’, nos despedimos do cansado aniversariante que subiu de elevador ao seu andar para dormir. Todos nós levamos um pedaço daquele Ulisses que, apesar das dificuldades da idade, ainda nos ensina o valor da amizade verdadeira, da resiliência e da importância de deixar um legado de conduta para os seus, como também tudo o que ele representou e ainda representa em nossas vidas. Que o senhor continue sendo essa fonte de inspiração para todos que tiveram a sorte de cruzar seu caminho. Feliz aniversário, meu amigo e compadre. Que a paz, o amor e a alegria continuem acompanhando você sempre.
quinta-feira, 20 de março de 2025
A saudade e a esperança.
Um jardim sem flor! É assim que eu me encontro. Não, ao sentir a falta de uma palavra sua, um aceno, um sentimento de alegria em que a minha saudade e esperança ilustram bem a minha solidão, nesse estado de incompletude e anseio, pela ausência e falta de cumplicidade de dias de contentamento. Plantei outras vezes, depois que você partiu as sementes no meu fértil terreno, mas estas se perderam com o tempo. Agora floresce em mim o desejo de reencontrá-la. A saudade que se espalha como terra nua em meu jardim, em que a esperança antes era vibrante, agora luta para sobreviver. Isolado no meu silêncio, com você ainda mais longe de mim, restam apenas as lembranças de reviver o que se foi, de preencher o vazio que sua partida deixou. Não é primavera. Inicia-se hoje mais uma estação do ano. O outono serve para se fazer análises sobre tudo o que poderá acontecer nos próximos meses. E nesse equinócio que virou a minha vida, onde as noites são iguais, sem novidades, sem mudanças, persiste minha melancolia. Se for para o seu bem, eu desejo sinceramente que você siga a sua própria estrada, em busca de novos sonhos, mas tome cuidado com as ilusões, para que você não caia em abismos, mesmo cavados com os seus pés, segundo o grande poeta ‘Cartola’. Às vezes, a compreensão da vida nos atrapalha, em busca constante por explicações.
A felicidade por alguns ângulos.
Entendo que a minha felicidade não é um destino. Ela não está no acúmulo de meus bens materiais. Creio que ela deve ser mensurada na forma como vivo, apesar dessa visão limitante, por vezes fora do meu controle. Penso eu também que o prazer não é um ponto fixo no horizonte, mas sim um caminho, uma experiência que se constrói no cotidiano. Além disso, cada pessoa tem uma definição diferente de felicidade. Porque o que traz sentido e realização para um indivíduo pode não ter o mesmo impacto para outro? Para mim, o contentamento, portanto, não é um caminho único, mas sim algo que se encontra em proporções diversas em cada escolha e atitude que tomamos diariamente. A verdadeira felicidade não vem de um lugar específico, mas da capacidade de viver com gratidão, aceitação e autenticidade. Para mim, é isso que importa. É saber apreciar o presente, aceitar as imperfeições da vida e estar em harmonia comigo mesmo.
quarta-feira, 19 de março de 2025
A cobrança do tempo é real.
Quando a idade avança, inicia-se a cobrança quase que inexpugnável do tempo, e comigo não é diferente. Eu sempre tive dificuldade de enxergar, principalmente quando sentava longe da lousa em momentos escolares. Essa situação perdurou por muitos anos e, contra a minha vontade, isso foi fatal à minha saúde, o que me obrigou a usar óculos até hoje. Foram algumas trocas de lentes e armações estéticas. Fiz vários exames oculares e não foram constatados glaucoma nem catarata. No entanto, há quase trinta anos, lá no meu trabalho, tive um acidente vascular cerebral leve, só quando eu cheguei à minha residência foi que notei o que havia acontecido. Fui ao ‘Posto de Saúde’, em ‘Muriqui’, ‘Distrito de Mangaratiba’, e a minha médica constatou esse acometimento por uma variável da pressão. Fiquei com um esticão perceptível no canto do lábio direito e a cobrança chegou agora para consolidar as fases da vida. E não é só isso! Tenho também hiperplasia prostática benigna, outra má companheira descoberta nos anos noventa que dificulta bastante a micção com algumas infecções urinárias, por esse motivo. Também percorri alguns hospitais públicos, sem sucesso. Naquela época, o médico disse-me que realizaria o procedimento por vinte e cinco mil reais. Hoje deve custar mais que o dobro. Estive na lista do ‘Sistema de Regulação’ por mais de quinze anos e não sei o que houve. Veio a pandemia da ‘Covid-19’, com tratamentos suspensos ou adiados, e o meu nome foi retirado da lista, uma frustração em relação ao sistema de saúde pública e às longas esperas para ser atendido condignamente. Essas situações, por mim relatadas, fazem de mim uma pessoa resiliente, que enfrenta com coragem e paciência as adversidades de todos esses anos. Nesse complexo processo de envelhecimento, apesar de tudo, eu encaro a vida com muita alegria, porque esses prazeres são efêmeros. Isso, as doenças não irão me contaminar. Sigo com muita energia e vigor, e elas não definem a minha forma de viver. E com essa motivação, eu seguirei meu caminho até o resto dos meus dias.
segunda-feira, 17 de março de 2025
O brilhantismo da música.
As músicas me acalmam, principalmente as belas e refinadas eruditas, que em ritmos de sinfonias complexas, como a que estou vivendo neste momento de refúgio, tão difícil e adverso. Uma fuga ao tempo, num luto emocional. Minhas agitações foram estendidas por decepções e angústias atribuídas não só a mim, como também a ela, por distanciamentos reservados em novas tecnologias digitais dos tempos modernos. Tenho perambulado pelas ruas, sem harmonia rítmica e sem equilíbrio. Uma parte de mim se foi. Uma pessoa que julgava a companheira para sempre, idolatrada em meus versos e prosas, a minha inspiração maior, que preenchia ocasiões de alegrias, e que já não existem mais. Nesse meu novo itinerário, os raios solares do amanhã me satisfarão apesar das nuvens e chuvas torrenciais carregadas de maus sentimentos e que prematuramente me ensoparam de dilúvios, quase permanentes. Mas eu acordei. Procuro uma nova mão para dançar, para brilhar e juntos contemplarmos o sol iluminando as nossas novas emoções, com ventos suaves para a minha vida em reconstrução. Uma âncora forte e resistente para futura jornada itinerante, na barca do amor, sem amargar derrotas. E quem sabe uma companhia que goste de música, como eu, para dançarmos valsas com sons sincopados, em comunhão de almas, em salões soberbos de diversões, e especialmente, com graça, beleza e exuberância, na riqueza das suas qualidades e afeições à vida. Espero alcançar esse sonho com objetivo e esperança, a todo amanhecer.
domingo, 16 de março de 2025
Uma parte da minha vida.
Bom dia! Lembro-me de que, aos seis anos, aproximadamente, o meu pai adquiriu uma parte de terreno na Rua Doutor Carlos Gross, uma rua sem saída, onde se via a mata virgem e uma pedreira em exploração com renitentes avisos de explosões. Lá, ele construiu uma humilde casinha para abrigar esposa e filhos, tudo com muita dificuldade. O nosso lote era remembrado, mas separado por cerca. Na parte da frente morava o português, de nome Albano, que vendia pipocas em frente ao cinema Baronesa e Ipiranga, em dias alternados. Coitado! Teve uma morte trágica e horrível: morreu inesperadamente, de infarto fulminante, ainda bem jovem, no banheiro da sua linda casa, deixando mulher e filho. Nós morávamos na parte dos fundos do terreno, era bem maior, com muitas árvores frutíferas. Recordo-me ainda de que eu e meus três irmãos ajudávamos nosso pai, enchendo o carrinho de mão, numa barreira que existia no fim da rua. É claro que não atulhávamos o precioso produto, o nosso era em menor proporção, por nossa idade, para aterro nos cômodos da casa, que ainda seriam erguidos. Ela foi construída num local íngreme, razão pela qual demandou bastante tempo para plainar o solo do nosso lar. Tínhamos um quintal, bastante comprido, com árvores: pinha, romã, fruta-do-conde, amora, mamão, amêndoas vermelhas e brancas, além de taiobas, carás. Na cerca, que era de tela de galinheiro, a mamãe plantou a hortaliça bertalha, que se alastrava por toda a extensão do cercado. Comíamos muita bertalha com ovo do nosso próprio quintal, porque havia lá uma pequena criação de galinha e pato. Como a rua era isolada, meus irmãos e eu nos entretínhamos com várias brincadeiras. Mas isso, eu contarei mais tarde, porque nesse momento foge-me a lembrança.
sábado, 15 de março de 2025
Meus três quartos de vida.
Prestes a completar setenta e cinco anos, sinto-me realizado e em paz com o que vivi até agora. Trabalhei muito, por vezes em dois empregos, além de horas extras, inclusive em alguns domingos, mas não desisti. Dei tudo de mim e hoje, com a sensação de dever cumprido. Tive dois casais de filhos, todos encaminhados pelo caminho do bem, assim como meus quatro netos maiores e uma neta, ainda com cinco anos. A família, para mim, é intocável e primordial, um alicerce que deve ser inabalável. Os tempos mudaram, assim como ela. A chegada do mundo digital, um excelente benefício indiscutível, facilitou o acesso à informação e ao conhecimento, mas também trouxe desafios. Os comportamentos já não são mais os mesmos, a mulher teve que se unir ao marido em suas conquistas e os filhos, na sua maioria, passam tempo em frente às telas, entre quatro paredes, sozinhos, aprendendo essa nova realidade virtual, especialmente após a volta das aulas. O impacto da tecnologia na educação e no desenvolvimento do caráter das novas gerações enseja uma interrogação sobre a educação futura, o que é bastante inquietante. Com meus três quartos de século de vida, já vi muita coisa, e talvez veja alguma novidade, mas continuo escrevendo e inspirando minhas convicções sobre a família na amplificação de dias melhores e decisivos na nossa vida, mesmo com o efeito da inovação nas novas gerações.
O som das cigarras.
Não é época de primavera, uma das mais belas estações do ano. Sinto falta das cigarras, com seus sons inconfundíveis, instaladas em troncos de árvores, sobre ritmos frenéticos de cantorias, ao esfregarem as asas no próprio corpo, à espera da metamorfose em busca de uma parceira para o período reprodutivo, em sinfonia de ciclos, que normalmente se estendem até o mês de março, com seu fim da temporada. Era comum, quando criança, ouvir os seus exaustivos cantos ao entardecer. Elas também são importantes no papel ecológico. São vulneráveis e transformam-se em dietas de vários pássaros, pela facilidade de serem localizadas por altos sons, determinando a sua localização em benefício do equilíbrio da natureza. O meio ambiente é sensacional.
segunda-feira, 10 de março de 2025
O amor de infância.
Você sabe aquele vazio no coração? Hoje, como cotidianamente, eu estou assim! Sem ânimo para nada! A minha energia foi embora, e meus dissabores permanecem em inconstantes dias. Eu não consegui ninguém para compartilhar da minha vida. Eu sou um solteirão carente de tudo. Somente a profunda solidão me conduz até aqui. Uma companhia difícil de lidar. Com ela, a reprimida, eu diariamente me desabafo, eu falo mal e choro copiosamente em lembranças da menina que enchia o meu peito de alegrias, mas os frustrantes pensamentos, até agora, me perseguiram principalmente nas noites, da claridade da lua que ainda ilumina a janela do meu quarto. Já tentei várias distrações, novas formas de viver, atividades ao ar livre, mas tudo em vão. Mas, ela não sai da minha mente. A minha idolatrada namorada de escola, nos tempos fundamentais. E por onde ela andará? A lembrança de adolescências me satisfaz e traz também à tona muitas emoções, principalmente as vividas na recreação escolar. Se pudesse, eu voltaria ao tempo, eu lhe diria como foi bom conhecê-la, como suas risadas me impressionavam, como o meu coração palpitava todas as manhãs entre olhares inocentes, perfilados ao ‘Hino Nacional’. Seria fabuloso, um reencontro de conexões e de respostas que se perderam ao longo dos anos em indagações, impactadas e presas à minha memória. Essa saudade que dilacera os corredores da minha mente e coração permanece ativa. Será que ela casou? Que ela tem filhos? Eu não tenho herdeiros! Só criei incertezas, desconectado de experiências, que eu imaginava viver, como a criação de uma família, com alguém especial. Por onde ela estiver eu estarei sempre alimentando o meu desejo de que ela seja bastante feliz, e a meu lado, a saudade distante e silenciosa, mais uma vivência de esperança que mantém as minhas vivas recordações.
domingo, 9 de março de 2025
O Titanic brasileiro.
Eu poderia escrever um livro sobre esse título acima, mas resolvi sintetizar o que está acontecendo no Brasil, apesar de interferências entre poderes, nessa nossa dita democracia que agracia os poderosos de plantão e o povo sucumbindo em seu derradeiro calvário de mazelas políticas e corrupções. Partidos políticos desembarcarão em alto-mar. O ano de dois mil e vinte e seis se aproxima e a debandada será geral. Todos estão como aves em séries de ‘Pesca Mortal’. Esvoaçam-se à espera da colheita, para o bem ou para o mal. Notam-se contrariedades de algumas aves em dispersão, do nosso transatlântico. A crise econômica da administração Dilma deu início à turbulência, por manobras fiscais, até o derradeiro impeachment da presidenta. Vieram depois Temer e Bolsonaro. Temer concretizou na sua gestão o controle da inflação, aprovação da ‘PEC’ do Teto e modernização trabalhista, entre outros. Bolsonaro foi responsável por uma expressiva desburocratização e modernização do sistema público, com a digitalização recorde dos serviços públicos federais, por meio da criação da plataforma digital “gov.br”, e posteriormente mediante a ‘Lei do Governo Digital’. Lançou também, em seu comando, a plataforma ‘PIX’, um sucesso, que deu início ao governo Temer. No entanto, com a chegada de Lula, no seu terceiro mandato, o leme da nossa embarcação está emperrado. O poder, com sangue nos olhos, trouxe um novo capítulo esquerdista, ligado a ditaduras e outras coisas mais, nesse momento de estagnação política. As promessas de campanha de Lula, que geraram tantas expectativas entre seus eleitores, não foram cumpridas da maneira que muitos imaginavam. A liderança do presidente parece estar imersa em dificuldades, com desafios econômicos que continuam se arrastando sem soluções claras à vista. O pacto de crescimento e progresso, que Lula prometeu, até agora não se materializou, e muitos dos que o elegeram começam a questionar sua capacidade de conduzir o país com a volta da inflação e a majoração de preços de produtos e serviços. A sua liderança parece estar presa em uma encruzilhada política e econômica. O pacto de crescimento e progresso, ao menos até o momento, não se concretiza da forma esperada, com baixa popularidade de seus eleitores. O país enfrenta um cenário de paralisia, com desafios econômicos que parecem se arrastar sem um rumo claro. O "Titanic Brasileiro", aparentemente, continua sua jornada sem um destino certo, com um governo que busca retomar os rumos, mas se depara com uma realidade complexa, onde as soluções não são tão simples. Assim, o Brasil continua a navegar em águas incertas, com os partidos políticos tentando encontrar seu lugar em um mar revolto, enquanto a população observa, aguardando por um futuro que, ao menos por enquanto, parece distante. Enquanto a polarização estiver acirrada entre extremistas de direita e esquerda, nós ficaremos à mercê das ondas. Enquanto essa disputa política persegue a maioria dos brasileiros, que continua à mercê das ondas, e poucos botes salva-vidas, e uma população cada vez mais aflita. A incompetência governamental, que por ora torna o caos no Brasil, leva muitas pessoas ao desespero, com balelas e injustiças políticas. Talvez, um dia, os sobreviventes entendam o que acontecerá com o "Titanic Brasileiro" e, quem sabe, reconstruam um futuro mais promissor. Mas, por enquanto, o país continua à deriva, aguardando um novo capitão, que, talvez, nunca apareça.
Uma escultura quase perfeita, de mulher.
Uma obra-prima que exibe harmonia, nas mãos habilidosas de um grande especialista, representando a perfeição fidedigna para o seu ideal. Detalhes meticulosos, a simetria das formas, em busca incessante da beleza em repouso. O corpo de uma mulher, esculpido com precisão, transmite uma sensação de leveza, como se ganhasse vida. O rosto dessa criatura em transformação, talvez de expressão serena ou contemplativa, parece refletir um estado de tranquilidade e força interior, com os olhos suavemente fechados ou olhando para o horizonte, imortalizando a mulher não só como um ser físico, mas como uma ideia de forte equilíbrio e harmonia. Um monumento de mulher, quase deslumbrante, vai além da mera reprodução de uma estrutura. É uma abstração da feminilidade, uma visão do que poderia ser a perfeição, uma representação do ideal que cada mulher, de certa forma, carrega dentro de si. Uma figura de beleza, uma personificação da força, da vulnerabilidade e da capacidade de se manter inteira em meio aos desafios da vida. Uma primazia inigualável e desejada por instintos observadores. A arte esculpida é assim, um convite a repercutir sobre a mulher física, como um ideal atemporal, repleto de nuances, forças e fragilidades que a tornam não só primorosa, mas profundamente humana. Uma verdadeira mulher sonhada em prosas e versos, em realidades infinitas, como também na imaginação e no coração daqueles que reconhecem a força que ela representa.