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terça-feira, 1 de julho de 2025

As flores e a esperança do amor.

A vanglória como máscara de segurança.

A tentativa de exibir qualidades que não se possui de se vangloriar ou de construir uma imagem que não corresponde à realidade, é um fenômeno psicológico e social complexo. Quando alguém finge uma virtude ou uma habilidade, não está apenas tentando enganar os outros, mas muitas vezes está tentando enganar a si mesmo. O ato de se vangloriar de algo que não se tem é, na essência, uma confissão implícita de que a pessoa não está convencida de sua própria autenticidade. De algum modo, essa pessoa se sente incapaz de ser plenamente ela mesma, talvez por insegurança, medo do julgamento alheio ou pela crença de que suas qualidades reais não são suficientemente apreciadas. 

domingo, 29 de junho de 2025

Quando a encontro.

Quando encontro o meu ex-amor, ela atravessa a rua, como quem evita o passado que ainda pulsa nos olhos. Abaixa a cabeça, como se cada lembrança medisse mais que o mundo. Depois de um tempo, ela telefona seja tarde da noite, com a voz trêmula presa em balbucios. Mas eu não a atendo. Choro por dentro, com o orgulho em carne viva, e mando outro responder em meu lugar, como quem não quer doer de novo. Ela esqueceu, talvez, nossos dias felizes, os corpos em harmonia, respirando o mesmo fôlego, em compassos de êxtase que o tempo não apaga, mas ela finge perceber. Esqueceu o som da minha pele na dela, o calor dos nossos afagos, os olhos fechados diante de um mundo que só nós dois conhecíamos. E agora, nesta encruzilhada onde se transportam nossos inegáveis desenganos, percebo: a paixão esvaiu-se vagarosamente, como um rio cansado, até desaguar no mar das desilusões. Ali, naufragamos sem grito, sem salvação, apenas o eco do que fomos afundando no esquecimento.

O que sou para ti.

Amor há em mim um tempo que começa agora. Um tempo em que deixo de ser apenas o que fui para me tornar tudo o que posso ser. Por ti, contigo, por nós. Antes de ti, eu era forma incompleta, uma quietação à espera do nome certo, uma nascente que ainda não encontrara o mar. Mas teu olhar me tocou como se dissesse: "vem ser mais, amor". E eu venho. Venho despido do que já não serve, venho deixando pelo caminho as versões antigas de mim, porque ao te amar, compreendi que o amor verdadeiro exige abnegação em permutas e transformação. Não quero perder-te. Não por medo, mas porque em ti descobri a grandeza do que posso ser. Quero ser melhor, ser inteiro, ser paz em teus dias cansados, ser acolhido nos teus silêncios, ser luz nos lugares onde a vida te parecer escura. Quando eu deixar de ser o que sou, amor é porque escolhi me tornar o homem que tua alma merece. E se me permitires, serei esse homem. Por ti. Para sempre.


sexta-feira, 27 de junho de 2025

Além do espelho.

Correnteza do amor

Quando a correnteza é forte, é sede que arrasta, é alma que chama, na ânsia de amar sem margens, no peito que não se acalma, em rios de silêncio, com os olhos a procurar um amor que não termine, alguém que saiba ficar. É mais que desejo, é delírio, é promessa sem se dizer. Um fogo que queima em mudez, um querer que só sabe crescer. À procura de um amor infinito, que me olhe sem medo, sem pressa, que me toque como o vento toca a flor, com ternura e com promessa. Se esse alguém também for correnteza, que nos encontremos no meio do mar. E que juntos, sem medo da força,  aprendamos, enfim, a amar.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Entre nós, o tempo.

Tudo que eu tenho é a lembrança do que fomos. Teu nome ainda ecoa nas dobras do meu silêncio, como se o tempo não tivesse passado,  como se ainda houvesse nós. Ficou tua ausência nos espaços da casa, nas xícaras que não se tocam, nos travesseiros que já não dividem sonhos. O tempo, esse velho cruel, não levou apenas tua presença, levou também a esperança do reencontro. Parti sem saber partir, carregando comigo o que deveria ter dito: as palavras que calei, os gestos que adiei, os “fica” que morri de medo de dizer. E cada passo longe de você foi um pedaço de mim ficando para trás. Você, que era casa, se tornou exílio quando me deixei ir. E agora, mesmo rodeado de tudo, sinto falta do teu pouco, da tua voz no fim da tarde, da tua calma quando o mundo ardia. Eu aprendi a viver com tua falta como quem respira embaixo d’água: com esforço, dor e silêncio. Não por escolha, mas porque seguir era preciso, ainda que o coração ficasse preso no ontem. Talvez ainda reste um traço teu em mim, ou um eco meu em ti. Talvez sejamos isso agora: dois caminhos paralelos que nunca mais se tocam, mas que ainda se olham de longe. Se o tempo me der uma chance, mesmo que breve, mesmo que tarde, voltaria só pra te dizer que você foi tudo que doeu e tudo que valeu. E se voltasses, eu te ouviria, não para recomeçar, mas para encerrar com ternura aquilo que o tempo deixou aberto demais. Porque entre nós, o tempo! Não venceu o amor. Apenas o transformou em saudade.

Meus temores.

Não confunda meu silêncio com paz. É só o som da bomba armada no meu peito. Cada palavra que eu engulo vira caco de vidro, e cada gesto que eu finjo esconde um grito. Estou cheio. Cheio demais. De promessas que não vieram, de desculpas recicladas, de olhares que diziam tudo, mas faziam nada. Explosão de temores, não decorativos, não poéticos, mas reais. Cortam, ardem, queimam a ponte entre o que sinto e o que finjo. Se eu transbordar, não diga que foi surpresa. Eu avisei com o olhar, com os silêncios, com essa calma que só existe antes da destruição. Você me ensinou o medo. Agora aprenda: quando o coração vira campo minado, até o amor vira perigo.

domingo, 22 de junho de 2025

Que ignorância, sem educação

Educação e ignorância, duas estradas que se cruzam no caminho da vida, ambas com seu preço oculto. A educação é um campo fértil, onde as sementes do saber germinam, mas exigem cuidados, atenção e paciência. Ela exige suor, lágrimas e o valor do esforço. Seu custo é a dedicação ao longo do tempo, o sacrifício de dias sem descanso, mas seu retorno é o horizonte expandido, o mundo desvelado em infinitas cores. A ignorância, por outro lado, é uma sombra que se estende silenciosa, mas seu peso é sutil e persistente. Ela cobra a falta de visão, o custo da dúvida não questionada, do erro que se repete. Embora pareça mais leve no início, ela carrega consigo o fardo do desconhecimento, da perda de oportunidades e da estagnação. Ambas, em sua essência, exigem algo de nós: o preço da educação é o esforço consciente, enquanto o preço da ignorância é o custo invisível daquilo que não sabemos, mas que, no fim, nos forma tanto quanto o saber.

sábado, 21 de junho de 2025

As tempestades e o medo

A colheita chega.

 Não há juízes nos caminhos da vida, nem prêmios dados ao acaso. Tudo que somos, tudo que fazemos, é semente lançada ao tempo. Plantamos gestos, palavras, silêncios e o universo, paciente, guarda tudo em seu solo invisível. O plantio é livre, é verdade… Mas a colheita? Ah, essa vem certa, inevitável, no compasso exato daquilo que ofertamos ao mundo. Cada ação carrega em si um retorno. Não como castigo, nem como recompensa, mas como consequência. A vida apenas devolve o que recebeu. Por isso, semeie com intenção bonita. Cultive com amor, com verdade, com coragem. Pois tudo na vida tem um preço, mas também tem poesia no que se escolhe viver. E no fim, os frutos virão. Doces ou amargos apenas o reflexo do que brotou de dentro.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

O canto chorado escondido no meu coração.

Há um canto, abafado e tímido, que mora dentro do meu peito calado. Não é grito, nem canção de festa é  lamento doce, sussurro de um passado. Ele não pede plateia, nem ouvidos atentos. É um som que apenas eu conheço, que vibra baixinho entre as costelas, feito lágrima que nunca escorreu. Chorado, sim, mas com beleza. Porque até a dor, quando é sincera, carrega uma música própria, feita de saudade e esperança. Esse canto vive escondido, não por vergonha, mas por cuidado. Alguns sentimentos são frágeis demais para o barulho do mundo lá fora. E assim, o guardo em silêncio, como quem protege uma flor que ainda desabrocha. Um canto chorado, mas vivo meu segredo, minha poesia, meu abrigo.

Seja humano.

Seja o que sente, o que erra, o que tenta. Seja lágrima e riso, incompleto, mas real. Não se esconda nas máscaras do que é perfeito, elas sufocam o que é belo: a sua verdade. Carregue suas falhas como quem carrega cicatrizes: com dor, mas com honra. Ser humano é ser caminho, não destino. É cair e continuar, com o coração aberto, mesmo partido. Seja humano, porque só quem sente é capaz de amar de verdade.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Há desencontros, entre encontros?

Há encontros que não vêm para preencher vazios, mas para acender o que já estava aceso, só que em silêncio. Quando uma pessoa completa a outra, não é um encaixe perfeito, daqueles que se moldam à força; é uma dança leve, em que os passos se aprendem no compasso do afeto. Ela não precisa ser como ele. Ele não precisa entender tudo nela. Mas há um entendimento maior, mais sutil, um saber estar junto mesmo quando se está longe. Permanecer inteiro mesmo quando o outro se desmonta. Completar não é somar, é transbordar. É quando o que o outro carrega ecoa em nós. É quando o medo de um encontra o colo do outro. Quando as palavras se tornam desnecessárias e o silêncio, seguro. É a mão que não guia, mas acompanha. O olhar que não julga, mas acolhe. É o toque que não invade, mas reconhece. Duas almas inteiras, que não se precisam para viver, mas se escolhem para caminhar. Que sabem que o amor não é salvar ninguém, mas ser abrigo enquanto o outro se encontra. Quando uma pessoa completa a outra, a vida não vira conto de fadas, mas se torna mais leve, mais real e, talvez, até mais bonita.

domingo, 1 de junho de 2025

Monólogo em software.

É sempre à noite que essa conversa começa. A casa silenciosa, a luz amarela da escrivaninha acende como um farol tímido, onde me sento diante do monitor em hipóteses sobre mim. Ali, naquele canto destinado às reflexões sobre minha vida, meus dedos inconscientes descortinam o teclado, que talvez em papéis nunca fossem lidos neste embate monólogo, onde palavras transcritas digladiam-se com minhas concepções. Tenho um temperamento estranho. Às vezes, sou calmo como a xícara morna que acompanha minhas noites; outras vezes, eu borbulho por dentro, que nem água, prestes a ferver. Não sou feito de um só humor, e acho que ninguém é. Há dias em que minha paciência cabe em oceanos e outros em que uma gota me transborda. Ainda assim, tento sempre escolher a bondade. Não por obrigação, mas por convicção. Porque sei que o mundo já tem farpas demais, e que ser gentil é uma espécie de resistência silente. O amor? Ah! Esse é um capítulo à parte. Amo profundamente, daqueles amores que se escrevem com inúmeras letras grandes e sublinhadas em negrito. Não sei amar pela metade, talvez por isso me machuque às vezes. Mas também por isso tudo ganha cor. Amar, para mim, é se permitir ser vulnerável, sem vergonha. É querer estar, escutar, cuidar. Não importa se o amor é romântico, fraterno ou feito só de presença. Ele sempre me atravessa inteiro. E os desejos? Esses não me deixam dormir cedo. Almejo uma vida que faça sentido, não apenas que siga o fluxo. Quero ser útil, deixar marcas boas nas pessoas, fazer alguém sorrir em dias nublados. Desejo liberdade, mas também abrigo. Espero ser compreendido, ainda que eu mesmo nem sempre me entenda. Às vezes, termino a noite sem respostas. Fecho o velho notebook, apago a luz da escrivaninha e sigo com o peito mais leve. Outras vezes, fico lá, em silêncio, apenas me escutando. Porque, no fim, essa conversa comigo mesmo é o jeito mais sincero de continuar me construindo, desfazendo barreiras e dúvidas sobre mim.

sábado, 31 de maio de 2025

O síndico e o dilúvio.

Naquela fria manhã, as covas do campo santo pareciam sorrir. Estavam todas abertas, famintas, como se o chão tivesse aprendido a engolir tragédias com apetite de costume. Os quatro agentes do presídio perpétuo estavam lá, a postos. Imóveis e impassíveis, só observando em expectativa o desfecho do féretro. Para eles, era só mais um dia de trabalho. Ávidos por mais gorjetas. Além disso, corpos inertes, em silêncios sepulcrais. A caravana de ataúdes vinha vagarosamente, como se o tempo também tivesse entrado em luto. Não sou bom de matemática, mas contei trezentos esquifes. Todos iguais, sem nome, sem flor, em desbotada madeira crua. Era o sepultamento de um condomínio, literalmente. Esse cortejo fúnebre atravessava a cidade levando o peso do fracasso coletivo. Antes disso, aquele lugar transmitia orgulho aos proprietários. Ruas limpas, blocos organizados, um parquinho pintado com as cores da esperança. Morar ali era estar a um passo acima do caos urbano. Mas por dentro, o concreto se desfazia como confiança em político velho. Canos estourados, paredes infiltradas, promessas adiadas. O síndico sorria, dizia que tudo estava "no planejamento", com voz e ajuda de PowerPoint e alma enganosa de planilha. Um mestre das palavras, daqueles que fazem até rachadura parecer charme, povoando as mentes de condôminos em verdades inexistentes, como se sempre fosse mais fácil ouvir palavras bonitas do que encarar mofo no teto. Até que veio a noite do dilúvio. Choveu como se o céu quisesse lavar a alma da cidade à força. O sistema de drenagem, aquele "garantido" com tanta certeza, colapsou na primeira hora. A água subiu. Os gritos também. E, quando as luzes se apagaram, cada morador percebeu que não tinha saída. Nem pelas escadas, sequer pelas promessas. O síndico, dizem, ficou trancado no escritório. Morreu assistindo tudo pelas câmeras de segurança. Até nisso, foi irônico: faleceu olhando para o desespero que ajudou a construir. No dia seguinte, não sobraram vozes, só caixões. E, no último deles, o seu corpo, anônimo, foi enterrado com a mesma madeira crua com que enterrou a confiança de todos. Mas, como toda crônica triste precisa terminar com algum sinal de recomeço, deixo aqui o detalhe que pode mudar a história: o despertador tocou, eu acordei molhado de suor e espantado. Não havia lama nos corredores, nem caixões na portaria. Apenas o eco de um pesadelo com crianças em alvoroço nos arredores dos prédios e as mesmices, de sempre.

 

quinta-feira, 29 de maio de 2025

O hiato entre a volta e a saida

Na espessura do tempo, tua alma se perde. Entre o que é voltar e o que é partir. A volta, com seus braços de ferro e medo, é como um eco que não se apaga, mas persiste. O que é o retorno senão uma prisão disfarçada? O passo dado de volta é uma reverência à dor, onde a saudade se veste de prisão e ilusão. E o ontem se estende como um véu opressor. Há uma saída, mas ela é apenas uma linha tênue, bordada de incerteza, tingida de coragem. Teu olhar, contudo, se perde na paisagem do passado, onde a segurança do familiar te arrasta sem palavras. Mas, mulher, tu és feita de horizontes distantes. E o peso da volta é leve ao toque de tua vontade. No fio da decisão a luz se entreabre tímida. E a saída, ainda que incerta, é um sopro que liberta. Não temas o não retorno, pois teu ser é um ato de fé, onde cada escolha é um refúgio e um voo. A volta pode ser uma sombra, mas tu és sol e todo sol, por mais escondido, sempre se ergue.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

A força do talento.

Cada ser humano tem diversificados talentos em sua vida. Uns se destacam com palavras, outros com números, alguns por empatia, outros por criatividade ou com a habilidade de fazer o que poucos conseguem. O ouvir, cuidar, organizar, inspirar, entre outros, faz parte desse contexto. É justamente essa diversidade de talentos que torna a nossa vida tão rica e cheia de possibilidades. Você não precisa ser bom em tudo. Precisa apenas reconhecer aquilo que lhe faz especial. Todos nós temos algo valioso a oferecer. Às vezes, o talento se revela cedo. Outras vezes, ele aparece aos poucos, com o tempo, com as vivências, com os desafios que se encontram sem que percebamos dessa competência e habilidades. A jornada de descoberta é parte da beleza de viver. O mais importante é entender que os nossos talentos não precisam ser iguais aos dos outros para terem valor, que se equivalem, penso eu. O mundo precisa de pessoas diferentes, com forças diferentes, trabalhando juntas. É nessa mistura de dons e compreensões de perspectivas que surgem as grandes ideias, os projetos transformadores e as conexões verdadeiras. Não subestime o seu potencial. Acredite no que você tem de único. Às vezes, aquilo que parece pequeno aos seus olhos pode ser exatamente o que o mundo precisa. Honre e sempre acredite nos seus talentos, cultive-os, compartilhe-os e nunca se esqueça de que o que nos torna diferentes também nos fortalece. A multiplicidade de vocações é um presente da vida. Valorize o que é seu. Engrandeça o que é do outro, para que todos em coesão construam um mundo mais criativo, mais justo e mais humano, de todos os esforços dispendidos.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

O pouco da minha riqueza, é maior que o mundo.

Aprendi com o tempo e o silêncio. Que há grandeza em viver com pouco, não por falta, mas por escolha. Em tempo algum, por renúncia, mas por liberdade. O que preciso cabe no coração, e o que não cabe, eu aprendi a deixar. O supérfluo pesa, o essencial sustenta. E é no essencial que mora a paz. Não corro mais atrás do que brilha. Prefiro o que acalma. Não coleciono coisas. Coleciono instantes. Cada necessidade que deixo para trás me devolve um pedaço de mim. E nesse vazio fértil, descubro a plenitude. Quem precisa de pouco, já tem tudo. Minhas poucas necessidades são minhas verdadeiras riquezas. Conto a liberdade de não precisar demais, mas consigo viver em paz.

 

segunda-feira, 19 de maio de 2025

O tempo em nossas vidas.

O tempo, silencioso e imparcial, caminha ao nosso lado desde o primeiro sopro de vida. Não faz alarde, não se apressa, mas nunca para. Com ele, vem à experiência, a sabedoria, a compreensão do mundo e, pouco a pouco, o desgaste do corpo que o abriga. Cada linha no rosto é uma história. Cada dor nas articulações é um capítulo vivido. A mente se torna mais lúcida, mais ponderada, enquanto o corpo, outrora ágil, passa a obedecer com mais lentidão. É como se a ocasião, ao nos ensinar a ver a vida com mais clareza, exigisse algo em troca: a juventude, a força, a ilusão da eternidade. Talvez seja esse o equilíbrio, e só podemos entender a vida quando já não temos tanto dela pela frente. A sapiência do tempo não é cruel por maldade, mas por necessidade. Ele não destrói por prazer, mas molda, transforma, prepara. Ele ensina-nos que tudo é impermanente, inclusive nós mesmos. E ainda assim, é nesse contraste entre a sabedoria crescente e a fragilidade do corpo que reside a beleza da existência. Porque saber que somos finitos dá sentido ao agora. E, no fim, é a alma que carrega os vestígios das rugas não como cicatrizes, mas como medalhas de quem viveu mesmo que intensamente.