Sempre, às minhas refeições, relembro você, com muita saudade, ao observar a sua cadeira macia e almofadada, por ora vazia, em que antes acolhia seu corpo que me enchia de alegrias e desejos. Agora, um espaço silencioso, uma peça de museu, sem vibração. Aqui sempre foi o seu lugar. Apesar de eu estar diferente, ainda a espero na minha porta de ilusão. É muito triste viver sozinho. Sei que você tentou por várias vezes procurar em seu mundo as certezas de uma nova vida e ambições de que seus projetos fossem realizados. Essa sua dolorosa partida me transformou também. Já não sou aquela pessoa sonhadora que se contentava com a espera de carinhos e afetos, em trajetórias de dor. Alimento-me, diariamente, de sentimentos antigos, por nossas juras e promessas descumpridas. Hoje, eu sou aquela luz ofuscada pelo tempo. Já não ilumino os meus pensamentos, uma escuridão interior, abafada pela dor e pelo tempo. Se, por acaso, você bater um dia em minha porta, penso eu, que o peso da minha solidão se dissiparia novamente, como névoa ao sol, e a nossa casa, tão vazia e silenciosa, se encheria novamente de vida. No entanto, todas as manhãs, eu acordo com uma brisa diferente em meu rosto. Acho que estou à espera do seu retorno, talvez decepcionada com o infeliz moinho das suas esperanças e aspirações. Não importa! A sua cadeira sempre estará aqui, neste mesmo lugar que você deixou, por onde passamos bastantes dias felizes, abrigados de ternura e paz, alimentados e partilhados de motivações e envolvidos pelos mesmos sentimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário