quarta-feira, 1 de maio de 2024

Caretas.

Muitos trejeitos, eu fiz em frente aos espelhos. Por onde eu passava, era comum fazer isso, às vezes com amigos. Essa continuidade prosseguiu até as nossas adolescências. Caras e bocas de todas as formas. Naquela minha época, não existiam ‘selfies’. Entre sorrisos e olhares, alguns fingidos, talvez por ciúmes de uma pretendente, mas sem coragem de tentar um namorico, tipo amor platônico, que quando eu a via estranhamente, um rubor esquentava a minha face, sem precedentes. As expressões faciais nos fazem revirar do avesso. Nem sempre simbolizam as verdadeiras intenções. Aquelas divertidas imagens, que remotamente eram brincadeiras, estão gravadas em minha retina. As verdades do reflexo da minha imagem, hoje, espelham-se em rugas, em desesperos. Atualmente, o espelho zomba de mim. Nunca mais eu reencontrei os meus amigos, mesmo com auxílio das redes sociais, aquela linda jovem que eu insistia em não me declarar, uma coisa louca, que eu via como a minha alma, no universo de conquistas, e que afligia o meu coração, se perdeu como aliança folgada em anelar. O tempo passou rapidamente. O principal espelho, de festas, onde eram as nossas diversões, também hoje, oxidado, está pouco menos desgastado como eu. Atualmente, esse refletor, às gargalhadas de mim, contrariando as minhas vontades e caçoando das lágrimas deslizando sobre o meu rosto, de forma vingativa e sem complacência, se finge em não me reconhecer. Nem tudo se reduz a pó. O tempo faz com que nossos corpos sigam os caminhos da imperfeição, assim como o abatimento da velhice provocada pelo retrato compadecido das minhas certezas, que outrora eu admirava no calor das emoções juvenis. Como o sol, ele nos cega e nos iludimos para sempre, escondendo em pensamentos que ele, o tempo, é dono do espelho da vida. Os reflexos são meros desejos de visões.

 

 

 

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