terça-feira, 7 de maio de 2024

Manequim

Caminhando casualmente, pela loja da ‘Chanel’, deparei-me com uma linda boneca, que imóvel, em pé e gesto sofisticado, esnobava um padrão diferente, em forma de convite, que representava uma semelhança de figura humana. No expositor de rua envidraçado e ornado em pétalas, aquele olhar fixo, esverdeado, e penetrante, me hipnotizava como a força da mente, que sem fim, em minha direção, persistia em abraça-la e tocá-la como o corpo de um violão. Isso fez, com que eu a observasse por horas, sem me importar com o escaldante sol de rua na magnífica ‘Quinta Avenida’, em mês escaldante de julho, lá em Nova Iorque. Aquele manequim me admirava exaustivamente e meu coração, como em catarse, pressentia que aquela figura escultural em plástico se tornasse um ser com vida sem cansaços respiratórios, em que eu, do outro lado, via pela pulsação da sua jugular em êxtase, com olhar divinizado, me provocando ao amor. Aquela negra, da cor do pecado, vestida de vermelho ofuscante, fez-me florescer a fantasia de um grande desejo, em beijos impetuosos e sedentos de amor. Inconformado com aquela linda visão e como sou pecador, atirei a primeira e única pedra, na vidraça, que estilhaçada, eu a vi pela última vez diante de mim. Eu acordei com os latidos do velho amigo, ’Max’ embaixo daquela exuberante marquise, que me abriga em todas as madrugadas das estações, anunciando um novo dia. Peguei os meus poucos pertences e dei a última olhada no interior daquele estabelecimento, pela vidraça intacta. Aquele manequim, que iludiu os meus pensamentos, havia saído da loja a procura de mais outro admirador e eu caminho todas as noites, aqueles olhares da minha imaginação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário