domingo, 26 de janeiro de 2025

O rei das perseguidas.

Mauro, tido com ‘Don Juan’, assíduo frequentador de prostíbulos e venerado, sem exceção, das infortunadas, por suas atitudes de conquistas em busca de satisfação rápida e descompromissada, sem romantismo, em busca incessante de prazer que não cabia em si. Gabava-se de ser o maior na alcova, sob as luzes vermelhas de cabarés superlotados. Num determinado ponto desses encontros, ele achou no bar uma linda mulher. De início pediu ao garçom uma pedra de gelo. Ao recebê-la, e, ao mesmo tempo, a atirou ao chão, espatifando-a em várias partes. Disse ele que era para quebrar o gelo, num gesto simples de sedução e dominação. No entanto, algo naquela mulher era diferente. Ela não reagiu da forma como ele esperava. Não riu não se surpreendeu, nem demonstrou o mínimo interesse por seu gesto. Em vez disso, ela olhou para ele com uma calma imperturbável, como se já tivesse visto aquele tipo de tentativa antes, como se soubesse exatamente quem ele era e o que ele queria. Seu olhar não era de desdém, mas de uma curiosidade silenciosa, algo que desconcertava Mauro. Enquanto o bar continuava a pulsar ao som da música e das conversas ao redor, Mauro ficou ali, imerso em seus próprios pensamentos, na tentativa de mais um sucesso, que nunca falhara nas investidas. Lá pelas tantas, os dois, como cobra no álcool, em passos trôpegos, seguiram para o abatedouro. Nas preliminares, o que parecia mais uma noite de prazer fugaz, descobriu ele que aquele corpo escultural era um travesti de lábios avermelhados, pronto a se entregar. Irresignado e perplexo com o lapso de cálculo, ele vestiu-se rapidamente e dirigiu-se, novamente, ao bar, a fim de terminar a noite adversa de decepção. Lá encontrou um novo amigo. Um rapaz novo, com falta de cabelos nas laterais da testa e meio esquisito. Beberam praticamente tudo. O astro-rei já raiava e as portas do bordel descerravam-se lentamente. Na despedida, os dois trocaram endereços e nomes. O segundo era Paulo. Mais era mais conhecido pelo mulherio de ‘calo de coxas’. Mais isso, é outra história. Quando as pedras sólidas de gelo são quebradas, descongelam-se mais rápido, o que muda a dinâmica de tudo que está ao nosso redor.

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