Por um descuido, em uma noite enluarada, meus grandes olhos me denunciaram. Os caçadores. pularam na água com muita impetuosidade. Tentei dar o giro da morte, com a isca lançada ao lago, sem sucesso. Um tiro acabou com a minha força esvaída em sangue, no abate comercial, em busca de lucros. Dali, eu fui preparado, como uma iguaria especial, o meu couro, com sua durabilidade e aparência exótica, um produto valiosíssimo, transformado em bolsa, sapatos e acessórios. Vendido para várias grifes internacionais, protegi os pés de pessoas ilustres e famosas, para novas caminhadas. Um novo ciclo de renovação. O meu símbolo de poder e resistência, e a superação de desafios, foram testados e infelizmente, encurtados. Enfim, nesse mundo interconectado, onde as ações humanas têm consequências profundas sobre outras formas de vida, gerou novamente um impacto negativo no meio ambiente. Hoje, enfurnado em uma velha caixa de papelão, entre outros calçados, sujo, desgastado e um pouco rasgado, em marcas permanentes da minha vida, em prantos e agonia sufocada. O couro, uma vez macio e firme, agora parecia rachado, como se o tempo tivesse se infiltrado nas suas fibras e o feito envelhecer de forma irreversível, sem falar no abominável cheiro, entre mofo e poeira. Por fim, a verdadeira beleza de um sapato não está em sua aparência, mas na jornada que ele percorre. Assim como ele, ainda tenho muito caminho pela frente. Conforme a última estrofe “do famoso Roupa Nova”, a verdadeira beleza de um sapato não está em sua aparência, mas na jornada que ele percorre. É só você me calçar, que eu aquecerei o frio dos seus pés. Basta você iluminar meus olhos no lago da esperança. Lá estarão abertos às novas sensações e destemidos de perseguições, com giros de paixões.
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