sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Quando a saudade chegou sem avisar.

Não mais que de repente ela foi embora. Estaqueou meu coração sem aviso, sem alarde, sem tempo para entender o que estava por vir. Apenas virou as costas e levou com ela tudo que fazia sentido: a rotina, a calma, o calor da presença. Deixou o silêncio. Um mistério que grita que pesa que machuca. Naquele instante meu coração parou. Desalinhou-se como quem leva um golpe e não entende de onde veio. E junto com ele caiu meu orgulho, esse muro tolo que construí para esconder o que sentia. Foi só quando ela se foi que eu vi com clareza: eu não era nada sem ela. Nada além de um corpo vagando por aí, tentando fingir força onde só existia vazio. A saudade não pediu licença. Entrou feito vento forte, bagunçando tudo por dentro. Tomou conta dos lugares mais íntimos, do travesseiro ao pensamento. Ela está na caneca de café que uso na minha predileta música que ela cantava baixinho na porta que não se fecha mais com o mesmo som. É nessas pequenas coisas que a ausência se faz presente. É ali que dói mais. E eu, que acreditava ser inteiro, descobri que era ela quem me completava. Era a voz dela que acalmava minha pressa, o olhar dela que me trazia de volta quando eu me perdia de mim mesmo. Era a presença dela que dava sentido aos meus dias comuns. Agora tudo é pausa. Tudo é espera. Tudo é lembrança. Dizem por aí que o tempo cura tudo. Mas ninguém fala do que ele não leva embora. O tempo passa, sim, mas a saudade fica. Fica como marca, como sombra, como eco. E mesmo que a dor um dia diminua, ela nunca desaparece completamente. Porque o que é verdadeiro não se apaga: transforma-se em memória. E é assim que sigo: lembrando: sentindo sobrevivendo à sua fragmentada ausência, um dia de cada vez.

Talvez eu não aprenda a viver sem ela, uma luz no meu caminho.
Mas, habitualmente e hoje, como sempre eu só aprendi a sentir a falta.
E lembrar-me dela exaustivamente, mesmo que me doa ainda é a forma mais bonita que encontrei de não deixá-la partir por completo.

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