Não sei de onde ela veio, nem para onde vai. Sua presença foi como a de um cometa que, de repente, cruzou o céu da minha vida, iluminando-a com sua intensidade, para logo em seguida desaparecer na vastidão do desconhecido. Nos envolvemos virtualmente, uma conexão que se teceu através das palavras digitadas, os sons das mensagens de áudio e, esporadicamente, a voz através da linha telefônica. Uma relação marcada pela efemeridade, como tudo que se constrói nas redes invisíveis do mundo digital. A cada conversa, ela se abria mais, e eu, de alguma forma, sabia escutar. Ela dizia que minha voz acalmava seu coração, e de certo modo, eu acreditava que sua confiança em mim era algo raro e precioso. Mas, ao mesmo tempo, era como se uma névoa de desconfiança pairasse sobre nós, como se o efêmero da relação virtual impedisse a criação de uma base sólida, um ponto de apoio. O tempo, essa força invisível, fazia e desfazia laços com uma naturalidade inquietante. E o que seria de nós, de nossa história, senão um emaranhado de certezas e incertezas? Ela me contava tudo, desde a infância até a vida adulta, como se estivesse entregando pedaços de sua alma em cada palavra. O peso de sua juventude, suas frustrações, seus anseios, suas vitórias e derrotas estavam em cada áudio, em cada linha digitada, como se eu fosse um confidente e, ao mesmo tempo, uma espécie de espelho para suas próprias angústias. A cada novo pedaço de sua história que me contava, o vínculo entre nós se tornava mais profundo, mas também mais difícil de compreender. Entre o conforto da amizade e a incerteza do que aquilo realmente representava, havia sempre uma tênue linha, uma sensação de que talvez estivéssemos presos a um momento, sem saber qual direção tomar. Afinal, como podemos confiar totalmente em alguém que, por mais que nos revele sua vida, permanece ainda uma figura distante, fragmentada pelas limitações do virtual? A calda incandescente passou e, com ela, um pedaço de mim também se foi, guardado nas memórias que, com o tempo, serão embaladas pela poeira do esquecimento. Mas, por ora, fico com a imagem dessa relação fugaz, da certeza de que, por um breve momento, duas vidas se cruzaram na imensidão da internet, marcando-se, por um instante, como estrelas que brilham e depois desaparecem, deixando apenas a lembrança de seu brilho no escuro da noite.
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