Tu voltaste. E o jardim, esse que um dia te ofereceu flores sem pedir nada em troca te reconheceu. Mas já não era o mesmo. Nem ele nem tu. Vi teus passos pisarem a terra como quem pisa um sonho antigo. Vinham lentos, cansados, arrependidos. Como se o corpo soubesse o que a boca ainda hesitasse em dizer: tu amaste sim, mas calaste. E o amor, minha cara, não floresce na serenidade. Ajoelhaste-te diante de uma rosa caída, como se ela ainda pudesse te ouvir. Ao redor, pétalas murchas formavam um frágil coração desfeito como as promessas que não se cumpriram. Tocaste-as como se quisesses ressuscitar o que deixaste morrer por orgulho, por medo, por quietude. Mas o jardim que um dia vibrou sob tua presença, agora se curvava em silêncio contigo. As flores te escutaram. E morreram mais um pouco a cada tua palavra. "Eu amei mal… e tarde demais." disseste. E com essas palavras selaste teu destino. As rosas, outrora vermelhas de desejo e esperança, penderam suas cabeças como quem chora em segredo. O vento se fez lamento. O céu se vestiu de cinza. E até os pássaros, testemunhas do que já foi belo, silenciaram. Tu esperaste que ele compreendesse teus gestos contidos, esperaste que o amor sobrevivesse às tuas omissões. Mas o amor, mulher é flor que exige sol, palavra, toque, coragem. Ele te ofereceu primaveras e tu respondeste com invernos. Quiseste que ele lesse teus olhos quando teus olhos evitavam os dele, que ele sentisse tua falta enquanto tu fingias não sentir a dele. Quiseste que ele ficasse enquanto tu partias por dentro. Agora voltas ao jardim como quem volta a um passado que ainda arde. Mas as flores não te esperaram. Elas murcharam com tua ausência, secaram com tua demora e morreram com teu arrependimento. Tu queres refazer o desenho no chão, o coração de pétalas que o tempo desfez. Mas há coisas, minha querida, que não se refazem. O amor quando morre sem ter vivido por completo, não se planta duas vezes no mesmo solo. Porque certas flores só desabrocham uma vez como mandacarus. E as benditas flores não colhidas morrem acreditando que não eram belas o suficiente. Tu foste amada imensamente. Mas só percebeste isso quando já não havia mais perfume, nem cor, nem vida no jardim. Levas contigo o peso de uma história não vivida. E o jardim, esse que um dia foi teu, permanece ali como um espelho do que poderia ter sido. Que esta terra nunca mais te floresça, ou que floresça, enfim, onde tu aprendas a ficar, a dizer, a amar antes que seja tarde. As flores que morrem de sede não guardam rancor, mas esquecem do nome de quem não as regou.
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