Lá, deitado na maca, com os olhos presos no teto sem cor, compreendi o que tantos já disseram, mas poucos de fato sentem: somos poeira. Pequenos demais para tanta arrogância. Insignificantes demais para tanto orgulho. Em menos de três minutos, a anestesia me levou. Um apagão suave, inevitável. Mas antes disso, ainda lúcido, senti um silêncio que não vinha de fora, mas de dentro. Um silêncio que desmonta e revela. Ali, naquele instante em que a consciência se esvai, tudo o que construímos para parecer fortes se dissolve. O autoritarismo se cala. A soberba perde o fôlego. Os títulos, as certezas, as máscaras, todos ficam do lado de fora da sala. Dentro só resta o frágil ser humano, entregue e vulnerável. Não somos nada. E, paradoxalmente, talvez seja exatamente aí que mora alguma verdade. Não no poder, mas na entrega. Não na força, mas na aceitação da nossa finitude. É estranho pensar que, para muitos, essa percepção só vem quando estamos deitados, imobilizados, prestes a adormecer diante de mãos desconhecidas. Mas talvez seja assim mesmo. Só nos damos conta da nossa pequenez quando não temos mais como fingir que somos grandes. No fim, somos poeira. Mas também somos consciência. E às vezes perceber isso já basta.
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