quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Copacabana! Eu estou com saudade dos velhos tempos

Na quadra da praia de Copacabana, um bairro de tanta fama e beleza, precisamente na Figueiredo de Magalhães, onde eu sempre morei, atualmente, a vista não é bonita, mas sombria, entre encantamentos e frustrações. Lá de cima, eu observo o trânsito caótico, buzinaços, muitos mendigos, alguns deitados sobre os vários papelões, como lençóis e madeiras sobrepostas, forradas com panos de cortiço  substituindo travesseiros, fétidos cobertores, alguns deles envoltos em surrados jornais e abrigados provisoriamente do sol e da chuva sobre marquises de lojas comerciais, vivendo como nômades. Nem as entradas de estabelecimentos bancários escapam das investidas, por serem aconchegantes e tranquilas para os invisíveis, excluídos da sociedade num reflexo das desigualdades sociais. Uma situação típica de abandono das mazelas governamentais. Na realidade, essas vulnerabilidades concentram-se em grandes cidades, por falta de políticas públicas eficientes, que preocupam o cotidiano das pessoas, especialmente os moradores deste charmoso bairro da maravilhosa cidade. Ainda, da minha janela, percebo diariamente cenas de agressões a transeuntes, furtos e roubos de celulares à mão armada, que os amigos do alheio, em motocicletas, locupletam-se de carteiras e até das bolsas com compras de supermercados, onde impera o ‘ninguém’ é de ‘ninguém’, em guerras diárias de sobrevivência devido ao despreparo e inércia de órgãos públicos, uma triste consequência por um sistema de segurança pública falido, onde a impunidade e a sensação de desamparo reinam vertiginosa e absolutamente. Em minhas frequentes caminhadas, pelas redondezas, sem lenço e sem documento, em busca da brisa marinha, eu despretensiosamente sentei-me ao lado de Drummond, instalado confortavelmente num banco, de costas para o mar, contrariado e triste com o bairro que residiu e velhas lembranças da saudosa Itabira e dos tempos de criança. Entre vários assuntos, eu perguntei-lhe, sobre o que fazer ‘E agora, José’? E perdeu, mané! Ele olhou para mim e respondeu: Os ‘Josés e Manés’ são sofredores. Padecem dos mesmos males. A primeira expressão é uma forma literária e profunda sobre desespero e impotência. A segunda é de rua e descontraída para agora, onde o ‘perdeu’ simboliza uma sensação de fracasso e derrota. O mais importante é não ficarmos no ‘meio do caminho’. O único jeito é retirarmos as pedras que nos dão topadas. Assim como às nossas retinas fatigadas, devemos encontrar soluções e resistência diante das adversidades. Saí de lá satisfeito, com a resposta do mestre das poesias. Retornei para o meu pequeno e acolhedor apartamento. Fechei a janela e puxei a cortina solitária, como final de peça teatral. Um extremo ato de se afastar do caos exterior para buscar, no meu silêncio, algum conforto entre quatro paredes.

 

 

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