O trem estava bastante lotado. As estações cheias a cada parada.
Sei que ele atravessará vales, montanhas e horizontes distantes. Este é o ‘Trem
para a Eternidade’. A composição não era feia. Vagões reluzentes e ornamentados,
com janelas que refletiam o brilho das estrelas, mesmo durante o dia. Não era
feito de aço e ferro, mas de algo etéreo, quase intangível, que se adaptava
àqueles que se aventuravam a embarcar nele, por força do chamado. Composto de
almas perdidas, pessoas que haviam conhecido o sabor amargo da saudade, da
solidão, da ilusão ou do arrependimento, em sua busca incessante por sentido e
explicações, além de compreender o grande mistério da existência, Esse comboio
não fazia promessas de paz ou de respostas, mas sim uma jornada sem volta.
Todos reunidos em silêncios profundos, acolhidos pelo tempo, todos se olhavam
com ansiedade e perplexidade ao aproximarem-se da última estação. Alguns pensavam
que o trem passava pelas memórias das pessoas, revelando cenas de vidas passadas
ou imagens de momentos ainda por vir. A maioria acreditava que o trem atravessaria
portais onde a eternidade não era um conceito abstrato. O ponto final, dizem,
não era uma estação como qualquer outra. Não tinha plataformas, nem guardas,
nem o som dos apitos estridentes. Também não havia multidões esperando ou
despedidas emocionadas. Era um lugar sem forma, sem nome, sem definição. Um
ponto onde o tempo se desfazia, e as linhas do passado, presente e futuro se
entrelaçavam em uma unidade indissolúvel. Não se tratava de um fim como estamos
acostumados a entender, mas de uma transformação. Aos olhos dos viajantes, o
ponto final era invisível. Para alguns, ele era apenas uma ideia distante, uma
miragem que nunca se concretizava. Afirmam alguns, em cartas psicografadas, que
ao chegar ao ponto final, o trem se desfez, dissolvendo-se na névoa do
infinito, e os passageiros desapareceram na vastidão do universo, tornando-se
parte dele. Outros dizem que, nesse ponto, todos os destinos se unificam, e
cada viajante encontra não uma resposta, mas uma paz silenciosa, onde a dúvida
se dissolve e a compreensão se torna algo que não pode ser explicado em
palavras. Eu só viverei essa experiência, no dia que eu partir. No meu espaço eu
desejo compartilhar com pessoas que souberam viver intensamente os prazeres da
vida.
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