De repente, o olhar se perde. Há um brilho, uma presença, um perfume discreto que invade a alma. O coração se move como se tivesse encontrado no rosto alheio o reflexo de um sonho. É humano encantar-se, é natural admirar a beleza que Deus espalhou pelo mundo. Mas logo, como um sopro de consciência, surge a lembrança: Não cobiçarás a mulher do teu próximo. O mandamento não cai como peso, mas como guia, aos homens despojados dessa ideia. Um alerta suave aos desavisados. Ele recorda que o encanto não é posse, que a beleza não é convite e que o desejo, se nutrido sem freio, pode envenenar a alma. Há mulheres que florescem em jardins já cuidados, corações que batem sob alianças e promessas. Tocar esse solo seria profanar não apenas uma união, mas também a essência de quem deseja. Então, o homem que se vê diante do encanto precisa aprender a transformar sua chama e seus pensamentos. Em vez de cobiça, a admiração. Em vez de desejo, o respeito. Em vez de apropriação, o silêncio e a distância. Porque o verdadeiro amor, ainda que guardado em segredo, não busca destruir, mas preservar. A grandeza não está em ceder à tentação, mas em erguer-se diante dela com a serenidade de quem compreende: nem tudo o que encanta deve ser tomado. Assim o coração se purifica. E aquilo que poderia ser tropeço torna-se lição, torna-se oração, torna-se força. E o homem em paz consigo e com Deus, entende que o encanto foi apenas um espelho mostrando-lhe que a beleza existe, mas que a fidelidade é maior que qualquer desejo e mais luminosa que o amargor da sinceridade.
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