domingo, 31 de agosto de 2025

Primavera em forma de mulher.

 De repente tudo virou desencanto. Não houve anúncio nem aviso nos céus, apenas um sopro pesado que apagou a chama do que antes parecia eterno. As folhas murcharam e sua cor, outrora vibrante, perdeu-se no tom amarelado do fim. O solo, agora coberto de memórias secas, já não acolhe a vida, mas apenas o rastro do que já floresceu. Os passarinhos calaram-se. O canto que preenchia a manhã foi engolido por um silêncio profundo que ecoa mais alto que qualquer grito. Não há música, não há melodia apenas a ausência que pesa no peito como pedra. O vento extenuado já não sopra como antes. Toca o rosto de forma fria e não tem mais forças para espalhar as folhas mortas ao chão. Até ele se rendeu ao cansaço do tempo. E dentro de mim uma tristeza enorme se ergue. Não é apenas o pranto de um instante, mas uma sombra que se alastra, tomando cada espaço do coração. O desencanto chega como um inverno que se prolonga, gelando as raízes, adormecendo a esperança. Não é feito de um único motivo, mas de pequenos nadas acumulados. Sonhos que se perderam, promessas que não vingaram caminhos que não se cumpriram. O mundo que antes era feito de cores, agora veste tons cinzentos. Os dias se arrastam como se fossem todos iguais e até a memória parece estafada de recordar o que já foi bonito. O tempo implacável parece ter parado apenas para mostrar o quanto a vida pode ser árida. Mas ainda assim, em meio ao silêncio e às folhas mortas, sinto uma leve teimosia da alma. Algo que insiste em não sucumbir totalmente. Talvez o desencanto seja apenas o intervalo antes do renascimento. Ocasionalmente, seja necessário aceitar o silêncio para um dia voltar a ouvir o canto. Eventualmente seja preciso encarar o frio para reconhecer o valor do calor. Tudo agora é tristeza. É verdade. Mas até o desconsolo, como as estações, passa. E mesmo que hoje o vento não consiga levar embora as folhas mortas, virá o dia em que ele trará de volta o perfume da primavera. E então, quando tudo parecia perdido, ela surgiu. Uma mulher caminhando como quem traz consigo a promessa da primavera. Seu olhar era claridade, sua voz era canto, seus passos espalhavam flores invisíveis pelo caminho. O vento, que já não tinha forças, ergueu-se em reverência ao toque de sua presença. Os pássaros, antes emudecidos, encontraram nela a coragem para voltar a cantar. Ela não trouxe apenas o perfume da estação. Trouxe a certeza de que a vida sempre recomeça. Que o desencanto é apenas um véu passageiro e que no coração de quem insiste em esperar, a primavera sempre retorna. E assim, diante dela, compreendi: nenhuma tristeza é eterna quando o amor veste o rosto da primavera.

 

 


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