domingo, 16 de novembro de 2025

Hoje meu dia está incompleto.

Relembrei meu grande amor assim que passei pela esquina que sempre me conduz de volta para casa. Ela, diferente daquelas mulheres que tantas vezes desamparadas buscam na noite o sustento de suas vidas tinha em mim todo o meu amor, minha atenção e a minha compreensão. Ela era íntima de minhas angústias, decepções e pequenas alegrias. E partiu súbita, como quem é lançado às alturas. Pensei naquela linda morena que frequentava minha vida e que escapou do laço que envolvia meu coração. Aquele corpo esguio insiste em permanecer na minha lembrança. Sua beleza simples me enlouquecia; seus trejeitos, sua ternura, sua boa vontade comigo e com todos ao redor. Estou sem chão. Sem perspectivas. Todas as noites, em meu quarto, contemplo as estrelas à procura da mais cintilante. E então, quando o silêncio se instala como um véu de veludo sobre o mundo, sinto sua ausência pulsar dentro de mim suave e cruel, como um sopro de vento que conhece todos os meus segredos. Cada estrela parece guardar um fragmento seu, um brilho que recorda a maciez do seu olhar e a delicadeza do seu sorriso derramado sobre minha existência. Caminho entre memórias como quem atravessa um jardim depois da chuva: tudo cheira a passado, tudo reluz o que já foi e nada posso tocar. A saudade me visita com passos leves, porém certeiros, e se instala em mim como moradora eterna. Às vezes quase escuto sua risada atravessando a noite, confundindo-se com o canto distante de um pássaro adormecido. Se ao menos eu pudesse recolher seus rastros pelo vento, reconstruir sua presença com as lembranças que ainda tremeluzem em mim, talvez meu coração encontrasse descanso. Mas o destino escultor implacável, moldou entre nós um abismo que nem o tempo ousa preencher. Assim permaneço: metade ser, metade saudade. E espero que a estrela mais brilhante àquela que busco todas as noites não me reconduza você, mas me devolva a mim mesmo, para que eu possa seguir, mesmo sem o sol que um dia atendi pelo seu nome. Preciso, enfim, desembaraçar a teia de ilusões que se fez da minha vida.

 

 

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