Há um dia em que a gente se cansa. Esgota de tentar caber, de agradar, de provar. Extenua de medir o próprio valor pela régua dos outros. E é nesse instante silencioso, quando o peito dói, mas a alma desperta, é que a gente entende: talvez seja hora de fazer as coisas por si mesmo. Eu me lembro de um dia em que percebi isso. Estava diante do espelho, sem maquiagem, com olheiras fundas e o cabelo preso de qualquer jeito, quase da forma maltrapilha. Por um momento, vi alguém que eu quase não reconhecia. Não porque eu tivesse mudado tanto, mas porque fazia tempo que não me olhava de verdade. Passei anos tentando corresponder às minhas expectativas, aos padrões, aos olhares. Mas ali, naquela manhã qualquer, entendi que o amor que eu esperava receber dos outros precisava, antes, nascer em mim. Foi quando decidi estudar por mim. Não mais para ser um exemplar, nem para ter um diploma que impressionasse pessoas. Mas porque aprender me faz sentir viva. Porque há algo profundamente libertador em entender o mundo, em questionar, em pensar por conta própria. O conhecimento é um tipo de amor silencioso. Ele nos segura quando tudo desaba, nos sustenta quando ninguém mais entende. Acompanha-nos quando o resto vai embora. Depois veio o corpo. Por muito tempo, eu malhei por culpa. Por não gostar do que via, por querer mudar o que o espelho refletia. Hoje, malho por gratidão. Porque meu corpo me carrega, me sustenta me leva onde a vida pede. Sinto o coração acelerando, o suor escorrendo, e percebo: é assim que eu me dou amor. Não é castigo. É cuidado. E então aprendi a me arrumar por mim. Colocar uma roupa bonita, um perfume leve, não para ser observada, mas, para me ver. Há dias em que isso parece banal, mas é nesses detalhes que a gente se reconstrói. É quando o espelho devolve o olhar e você finalmente pensa: “eu gosto de quem estou me tornando”. Mudar também virou parte do processo. Por muito tempo, temi mudar. Achava que isso significava perder algo. Mas descobri que mudar é, na verdade, se reencontrar. Cada versão que deixei para trás foi necessária para que eu chegasse até aqui. Mudar por mim é escolher crescer, mesmo que doa. É respeitar o que o coração pede, mesmo que ninguém entenda. É saber que o amor-próprio, às vezes, vem disfarçado de recomeço. Hoje entendo que nada disso é sobre egoísmo. É sobre amor. Amor que não depende, não implora, não se mede por likes ou aprovações. É o tipo de amor que me faz caminhar com firmeza, mesmo quando o chão é incerto. O tipo que me faz olhar para o espelho e sorrir mas não porque está tudo perfeito, mas porque, finalmente, é você quem está ali. E se um dia me perguntarem o que aprendi com tudo isso, direi apenas: faça por você. Estude, malhe, se arrume, mude, mas sempre por você. Porque quando você escolhe se amar, o mundo inteiro muda de forma. E pela primeira vez, a vida começa a ter o seu rosto.
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