quinta-feira, 26 de junho de 2025

Entre nós, o tempo.

Tudo que eu tenho é a lembrança do que fomos. Teu nome ainda ecoa nas dobras do meu silêncio, como se o tempo não tivesse passado,  como se ainda houvesse nós. Ficou tua ausência nos espaços da casa, nas xícaras que não se tocam, nos travesseiros que já não dividem sonhos. O tempo, esse velho cruel, não levou apenas tua presença, levou também a esperança do reencontro. Parti sem saber partir, carregando comigo o que deveria ter dito: as palavras que calei, os gestos que adiei, os “fica” que morri de medo de dizer. E cada passo longe de você foi um pedaço de mim ficando para trás. Você, que era casa, se tornou exílio quando me deixei ir. E agora, mesmo rodeado de tudo, sinto falta do teu pouco, da tua voz no fim da tarde, da tua calma quando o mundo ardia. Eu aprendi a viver com tua falta como quem respira embaixo d’água: com esforço, dor e silêncio. Não por escolha, mas porque seguir era preciso, ainda que o coração ficasse preso no ontem. Talvez ainda reste um traço teu em mim, ou um eco meu em ti. Talvez sejamos isso agora: dois caminhos paralelos que nunca mais se tocam, mas que ainda se olham de longe. Se o tempo me der uma chance, mesmo que breve, mesmo que tarde, voltaria só pra te dizer que você foi tudo que doeu e tudo que valeu. E se voltasses, eu te ouviria, não para recomeçar, mas para encerrar com ternura aquilo que o tempo deixou aberto demais. Porque entre nós, o tempo! Não venceu o amor. Apenas o transformou em saudade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário