Não sei de onde ela veio, nem para onde vai. Sua presença foi como a de um cometa que, de repente, cruzou o céu da minha vida, iluminando-a com sua intensidade, para logo em seguida desaparecer na vastidão do desconhecido. Nos envolvemos virtualmente, uma conexão que se teceu através das palavras digitadas, os sons das mensagens de áudio e, esporadicamente, a voz através da linha telefônica. Uma relação marcada pela efemeridade, como tudo que se constrói nas redes invisíveis do mundo digital. A cada conversa, ela se abria mais, e eu, de alguma forma, sabia escutar. Ela dizia que minha voz acalmava seu coração, e de certo modo, eu acreditava que sua confiança em mim era algo raro e precioso. Mas, ao mesmo tempo, era como se uma névoa de desconfiança pairasse sobre nós, como se o efêmero da relação virtual impedisse a criação de uma base sólida, um ponto de apoio. O tempo, essa força invisível, fazia e desfazia laços com uma naturalidade inquietante. E o que seria de nós, de nossa história, senão um emaranhado de certezas e incertezas? Ela me contava tudo, desde a infância até a vida adulta, como se estivesse entregando pedaços de sua alma em cada palavra. O peso de sua juventude, suas frustrações, seus anseios, suas vitórias e derrotas estavam em cada áudio, em cada linha digitada, como se eu fosse um confidente e, ao mesmo tempo, uma espécie de espelho para suas próprias angústias. A cada novo pedaço de sua história que me contava, o vínculo entre nós se tornava mais profundo, mas também mais difícil de compreender. Entre o conforto da amizade e a incerteza do que aquilo realmente representava, havia sempre uma tênue linha, uma sensação de que talvez estivéssemos presos a um momento, sem saber qual direção tomar. Afinal, como podemos confiar totalmente em alguém que, por mais que nos revele sua vida, permanece ainda uma figura distante, fragmentada pelas limitações do virtual? A calda incandescente passou e, com ela, um pedaço de mim também se foi, guardado nas memórias que, com o tempo, serão embaladas pela poeira do esquecimento. Mas, por ora, fico com a imagem dessa relação fugaz, da certeza de que, por um breve momento, duas vidas se cruzaram na imensidão da internet, marcando-se, por um instante, como estrelas que brilham e depois desaparecem, deixando apenas a lembrança de seu brilho no escuro da noite.
quinta-feira, 18 de setembro de 2025
O fundo da vida.
O tédio, como um abismo silencioso, se instala no fundo da vida humana, muitas vezes sem aviso, e nos faz sentir a falta de algo que ainda não sabemos nomear. Não é a ausência de atividade que assusta, mas a falta de significado. Quando o ritmo frenético do mundo diminui, quando os barulhos e as distrações da vida se aquietam, o que resta é o eco do vazio. E nesse eco, sentimos que estamos no fundo. O fundo da vida. É curioso como, no fundo, a vida se revela para nós de maneira paradoxal: é no silêncio do tédio que as questões mais profundas surgem. A sensação de que estamos apenas passando pelo tempo, sem saber exatamente o que estamos fazendo, é uma das mais comuns e dolorosas. Talvez o tédio seja, na verdade, um reflexo de nossas próprias limitações diante de um mundo tão vasto e imprevisível. Ele nos força a encarar nossa própria finitude, nossa incapacidade de preencher o vazio com algo que realmente nos defina. A verdade é que todos, em algum momento, enfrentam esse fundo. Alguns buscam distrações, outros tentam preencher o vazio com novos projetos, relacionamentos ou bens materiais. Mas, no fim, o tédio retorna, e com ele, a velha pergunta: "O que estou realmente buscando?" O que falta para que a vida seja mais do que uma sucessão de momentos vazios, mais do que um simples passar do tempo? Talvez a busca pelo sentido da vida seja justamente a busca para sair desse fundo. Para encontrar algo que transcenda o tédio, que nos dê direção. Não é fácil, e talvez o tédio seja necessário para que possamos refletir sobre o que queremos, sobre o que realmente importa. Porque só no silêncio do vazio é que podemos ouvir a nós mesmos e tentar, mesmo que vagarosamente, nos erguer para algo mais significativo. O tédio, então, não é apenas um inimigo. Ele é, paradoxalmente, um aliado. Um espelho que reflete nossa humanidade, nossa fragilidade e nossa busca incessante por algo maior do que nós. E ao enfrentá-lo, podemos descobrir que a vida, mesmo no fundo, ainda tem algo a nos oferecer.
terça-feira, 16 de setembro de 2025
.oma a uE
Quando o amor vem de trás pra frente. Às vezes, as coisas mais belas da vida chegam de forma inesperada. Nem sempre o amor começa com declarações claras ou caminhos óbvios. Às vezes, ele vem ao contrário, como a frase acima citada. Lida de trás pra frente, revela sua alma: Eu a amo. Mas do jeito que está, é como se o sentimento estivesse escondido, tímido, camuflado nas entrelinhas do tempo e da linguagem é sobre aquele amor que não foi dito no momento certo, mas que vive ali, pulsando em silêncio. É sobre sentimentos que se embaralham antes de se revelarem. É o amor que não precisa gritar para existir.Talvez o coração fale mesmo ao contrário, tentando encontrar coragem para se fazer entender. E quando finalmente lemos com atenção, percebemos que a mensagem estava ali o tempo todo, esperando para ser decifrada. Porque no fim das contas, seja de frente ou ao contrário, o amor verdadeiro sempre encontra um jeito de ser lido.
domingo, 14 de setembro de 2025
O clamor do teu jardim.
Tu voltaste. E o jardim, esse que um dia te ofereceu flores sem pedir nada em troca te reconheceu. Mas já não era o mesmo. Nem ele nem tu. Vi teus passos pisarem a terra como quem pisa um sonho antigo. Vinham lentos, cansados, arrependidos. Como se o corpo soubesse o que a boca ainda hesitasse em dizer: tu amaste sim, mas calaste. E o amor, minha cara, não floresce na serenidade. Ajoelhaste-te diante de uma rosa caída, como se ela ainda pudesse te ouvir. Ao redor, pétalas murchas formavam um frágil coração desfeito como as promessas que não se cumpriram. Tocaste-as como se quisesses ressuscitar o que deixaste morrer por orgulho, por medo, por quietude. Mas o jardim que um dia vibrou sob tua presença, agora se curvava em silêncio contigo. As flores te escutaram. E morreram mais um pouco a cada tua palavra. "Eu amei mal… e tarde demais." disseste. E com essas palavras selaste teu destino. As rosas, outrora vermelhas de desejo e esperança, penderam suas cabeças como quem chora em segredo. O vento se fez lamento. O céu se vestiu de cinza. E até os pássaros, testemunhas do que já foi belo, silenciaram. Tu esperaste que ele compreendesse teus gestos contidos, esperaste que o amor sobrevivesse às tuas omissões. Mas o amor, mulher é flor que exige sol, palavra, toque, coragem. Ele te ofereceu primaveras e tu respondeste com invernos. Quiseste que ele lesse teus olhos quando teus olhos evitavam os dele, que ele sentisse tua falta enquanto tu fingias não sentir a dele. Quiseste que ele ficasse enquanto tu partias por dentro. Agora voltas ao jardim como quem volta a um passado que ainda arde. Mas as flores não te esperaram. Elas murcharam com tua ausência, secaram com tua demora e morreram com teu arrependimento. Tu queres refazer o desenho no chão, o coração de pétalas que o tempo desfez. Mas há coisas, minha querida, que não se refazem. O amor quando morre sem ter vivido por completo, não se planta duas vezes no mesmo solo. Porque certas flores só desabrocham uma vez como mandacarus. E as benditas flores não colhidas morrem acreditando que não eram belas o suficiente. Tu foste amada imensamente. Mas só percebeste isso quando já não havia mais perfume, nem cor, nem vida no jardim. Levas contigo o peso de uma história não vivida. E o jardim, esse que um dia foi teu, permanece ali como um espelho do que poderia ter sido. Que esta terra nunca mais te floresça, ou que floresça, enfim, onde tu aprendas a ficar, a dizer, a amar antes que seja tarde. As flores que morrem de sede não guardam rancor, mas esquecem do nome de quem não as regou.
terça-feira, 9 de setembro de 2025
O perigo do consenso absoluto.
Aparentemente, estar sempre de acordo com alguém pode parecer sinal de sintonia perfeita. Afinal, quem não deseja relações sem conflitos, discussões ou desentendimentos? No entanto, por trás de uma concordância constante pode estar escondido um fenômeno preocupante: a renúncia ao pensamento próprio. Quando duas pessoas jamais discordam, algo essencial está faltando a pluralidade de ideias. O pensamento humano é, por natureza, diverso, formado por vivências, valores, dúvidas e visões de mundo únicas. A discordância, nesse sentido, não é uma ameaça, mas um sinal de que há ali duas consciências ativas, autênticas, dialogando. O consenso absoluto, ao contrário, frequentemente revela um desequilíbrio: alguém pensa e o outro apenas consente. Seja por medo de desagradar, insegurança intelectual, ou hábito de submissão, essa harmonia artificial apaga a voz de um dos lados ou dos dois, se ambos estiverem apenas tentando manter a aparência de paz. É uma tranquilidade estéril, onde não há crescimento, questionamento ou transformação. Na história, nos relacionamentos e até nas organizações, o pensamento crítico nasce do atrito saudável entre ideias diferentes. O debate construtivo é o que impulsiona decisões mais justas, relações mais maduras e sociedades mais conscientes. Já o silêncio disfarçado de concordância pode ser conveniente, mas empobrece o diálogo e enfraquece a liberdade. Portanto, é preciso desconfiar da unanimidade fácil. Pensar diferente não é romper, é enriquecer. A verdadeira harmonia não está na ausência de discordância, mas na capacidade de ouvir, refletir e, quando necessário, discordar com respeito. Porque só assim garantimos que todos realmente pensam e não que apenas repetem o pensamento de outro.
domingo, 7 de setembro de 2025
O despertar na calmaria da vingança.
Eu não era assim. Havia em mim um ser doce, um coração sem armaduras, um desejo atroz por você, como se o mundo coubesse inteiro em um único nome: o seu. Eu te amei como quem crê no milagre do inesperado, no perfume do intocável. Amor para mim era um templo, e você era o altar onde eu rezava minha fé cega. Mas o tempo, ah, o tempo, esse escultor de verdades que os olhos não veem, começou a bater à porta do meu peito, trazendo respostas que eu jamais pedi. E fui vendo aos poucos o quanto eu era cego dentro do brilho falso do seu olhar. Na retina um véu. No seu toque um ensaio. No seu carinho o ensaio de um abandono silencioso. Você sorria e eu retribuía também. Mas era um teatro. Você ensaiava a despedida, eu sem saber a permanência. Seus enganos se enraizaram como erva daninha nos campos onde plantei confiança. E quando tudo floresceu, as flores tinham espinhos que eu não via. E eu sangrei. Sangrei em silêncio, como quem ainda crê que vale a pena. Mas o hoje não resta em mim o mesmo homem. Há em mim uma vingança calma, não de faca nem de grito, mas de ausência. A vingança de quem foi e não volta. De quem amou e agora se basta. O coração que antes pulsava seu nome agora palpita liberdade. A alma que te esperava nas madrugadas agora dança com o vento sem rumo, sem amarras, livre. E se há ainda algo de você em mim, é só a lembrança do que não quero mais ser. A memória de um amor que me traiu com o silêncio, com a negligência, com o desprezo embalado em gentileza. Você enxovalhou meu coração com uma harmonia falsa, com promessas costuradas em mentiras. E agora eu reescrevo meus dias com mãos firmes e olhos abertos. Não te odeio. De modo algum te amo. Em nenhum momento te quero. O que mora em mim agora é o eco da dor que me despertou, é a vingança mansa de quem sobreviveu. De quem amou e aprendeu a amar a si mesmo mais.
Nas masmorras do amor.
Nas masmorras do amor, sem correntes nem grades, mas com o peso do mundo em cada lembrança habito os corredores escuros da saudade, como quem cumpre pena por crer na esperança. Fui réu confesso dos sonhos que tivemos julgado pelo tempo e condenado à solidão. As promessas que fizemos já nem sei se as dissemos ecoam vazias no cárcere do coração. A vida, essa juíza impiedosa, revisitou o que o desejo ocultou. Em teus olhos vi a alvorada mais formosa, mas era ilusão: a noite nunca passou. Lembro-me de ti em cada esquina do dia, em cada sombra que o sol projeta no chão, em cada rosto, em cada melodia, tua ausência ressoa como um trovão. E então te vejo entre mil rostos perdidos, como se o destino zombasse de mim. Caminhas tranquila, passos bem definidos e eu prisioneiro, sem começo, meio ou fim. Tu cruzas a rua, tua silhueta, poesia viva, o vento brinca com teus cabelos como antes. Meu peito se agita, a lembrança é nociva como vinhos antigos, amargos e cortantes. Finges desejo com um olhar que me atravessa. Ofereces-te os lábios veneno em tentação. Mas é teatro teu gesto logo se dispersa, e cruzas para o outro lado sem dar explicação. Finges não me ver. És atriz da indiferença. E eu, coadjuvante do amor que não venceu, sinto a dor calada da tua presença e a ausência gritante do que nunca foi meu. Oh, doce engano moldado em teu sorriso! Quantas noites eu vaguei buscando abrigo, pensando no toque, no beijo, no aviso de que talvez nunca estiveres comigo. A vida segue cruel, sem rima nem razão, mas sigo também, mesmo sem direção. Pois quem ama demais, não perde a paixão, apenas aprende a conviver com a prisão. E nos calabouços do amor sigo a viver com a chave da liberdade no passado. Teu nome tatuado em meu próprio sofrer, teu rosto nos muros do sonho trancado. Mas que seja assim, se assim tiver de ser, pois mesmo na dor teu rastro é calor. E mesmo fingindo não mais me ver, ainda te amo com todo rancor e amor.
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
Quando a saudade chegou sem avisar.
Não mais que de repente ela foi embora. Estaqueou meu coração sem aviso, sem alarde, sem tempo para entender o que estava por vir. Apenas virou as costas e levou com ela tudo que fazia sentido: a rotina, a calma, o calor da presença. Deixou o silêncio. Um mistério que grita que pesa que machuca. Naquele instante meu coração parou. Desalinhou-se como quem leva um golpe e não entende de onde veio. E junto com ele caiu meu orgulho, esse muro tolo que construí para esconder o que sentia. Foi só quando ela se foi que eu vi com clareza: eu não era nada sem ela. Nada além de um corpo vagando por aí, tentando fingir força onde só existia vazio. A saudade não pediu licença. Entrou feito vento forte, bagunçando tudo por dentro. Tomou conta dos lugares mais íntimos, do travesseiro ao pensamento. Ela está na caneca de café que uso na minha predileta música que ela cantava baixinho na porta que não se fecha mais com o mesmo som. É nessas pequenas coisas que a ausência se faz presente. É ali que dói mais. E eu, que acreditava ser inteiro, descobri que era ela quem me completava. Era a voz dela que acalmava minha pressa, o olhar dela que me trazia de volta quando eu me perdia de mim mesmo. Era a presença dela que dava sentido aos meus dias comuns. Agora tudo é pausa. Tudo é espera. Tudo é lembrança. Dizem por aí que o tempo cura tudo. Mas ninguém fala do que ele não leva embora. O tempo passa, sim, mas a saudade fica. Fica como marca, como sombra, como eco. E mesmo que a dor um dia diminua, ela nunca desaparece completamente. Porque o que é verdadeiro não se apaga: transforma-se em memória. E é assim que sigo: lembrando: sentindo sobrevivendo à sua fragmentada ausência, um dia de cada vez.
Talvez eu não aprenda a viver sem ela, uma luz no meu caminho.
Mas, habitualmente e hoje, como sempre eu só aprendi a sentir a falta.
E lembrar-me dela exaustivamente, mesmo que me doa ainda é a forma mais bonita
que encontrei de não deixá-la partir por completo.
Nada além de poeira
Lá, deitado na maca, com os olhos presos no teto sem cor, compreendi o que tantos já disseram, mas poucos de fato sentem: somos poeira. Pequenos demais para tanta arrogância. Insignificantes demais para tanto orgulho. Em menos de três minutos, a anestesia me levou. Um apagão suave, inevitável. Mas antes disso, ainda lúcido, senti um silêncio que não vinha de fora, mas de dentro. Um silêncio que desmonta e revela. Ali, naquele instante em que a consciência se esvai, tudo o que construímos para parecer fortes se dissolve. O autoritarismo se cala. A soberba perde o fôlego. Os títulos, as certezas, as máscaras, todos ficam do lado de fora da sala. Dentro só resta o frágil ser humano, entregue e vulnerável. Não somos nada. E, paradoxalmente, talvez seja exatamente aí que mora alguma verdade. Não no poder, mas na entrega. Não na força, mas na aceitação da nossa finitude. É estranho pensar que, para muitos, essa percepção só vem quando estamos deitados, imobilizados, prestes a adormecer diante de mãos desconhecidas. Mas talvez seja assim mesmo. Só nos damos conta da nossa pequenez quando não temos mais como fingir que somos grandes. No fim, somos poeira. Mas também somos consciência. E às vezes perceber isso já basta.
Intuição, Inocência e Fé.
Não abandone suas três grandes e inabaláveis amigas: a Intuição, a Inocência e a Fé. Ao longo da vida, somos ensinados a acumular conhecimento, desenvolver habilidades, cultivar experiências e buscar certezas. Mas, curiosamente, quanto mais crescemos, mais nos afastamos de três presenças silenciosas e poderosas que estiveram conosco desde o início: a Intuição, a Inocência e a Fé. Essas três amigas não gritam, não disputam espaço, não exigem explicações. Elas apenas esperam com paciência que voltemos para casa para dentro de nós mesmos. A Intuição: a sabedoria que não precisa de palavras À Intuição é aquela voz que sussurra antes que a mente formule argumentos. Ela é o pressentimento, o arrepio, o caminho que parece certo mesmo sem lógica aparente. Não é superstição, tampouco impulso vazio. É sabedoria antiga que se manifesta sem pedir licença. Num mundo onde tudo precisa ser provado, medido, calculado, a intuição é muitas vezes desacreditada. No entanto, quantas vezes já nos arrependemos por não tê-la escutado? Ela percebe o que os olhos não veem, sente o que as palavras não dizem. Ignorá-la é como tapar os ouvidos para um conselho vindo do nosso eu mais profundo. Manter a amizade com a intuição é manter o canal aberto com o invisível, com o que está além da razão e muitas vezes é lá que mora a verdade. A Inocência: a pureza que enxerga com o coração A inocência não é tolice, não é ignorância. É a capacidade de ver o mundo com olhos limpos, sem cinismo, sem o peso das decepções. É a criança que ainda vive em nós, acreditando no bem, na beleza, no recomeço. Na pressa de crescer, trocamos a inocência pela desconfiança, como se fosse sinal de maturidade suspeitar de tudo e de todos. Mas o cético excessivo raramente encontra paz. Já o inocente, aquele que ainda consegue se maravilhar com a vida, experimenta um tipo de alegria que não se compra nem se ensina: apenas se sente. Conservar a inocência é manter viva a sensibilidade, a empatia, a esperança. Ela nos protege do endurecimento da alma, do olhar amargo. É ela que nos permite amar de novo, confiar de novo, começar de novo. A Fé: o sustento invisível nos dias escuros À fé é a chama que não se apaga mesmo quando tudo ao redor escurece. Não importa em que ou em quem você acredita o essencial é que você acredite. Ter fé é seguir andando mesmo sem saber o que vem depois da curva. É confiar que há sentido mesmo quando tudo parece sem modo algum. A fé não precisa de prova, ela é a prova. Em tempos de dúvida, crise, perda ou solidão, é ela que nos mantém de pé. Enquanto o medo paralisa, a fé impulsiona. Enquanto a razão limita, a fé expande. Fé é resistência. É ponte entre o finito e o eterno. É a certeza de que, mesmo no caos, existe uma ordem maior agindo em silêncio. Não as abandone. Nunca. A intuição, a inocência e a fé não são luxos espirituais são ferramentas de sobrevivência da alma. São raízes que nos mantêm conectados ao essencial quando tudo o mais nos afasta de nós mesmos. Quando o mundo te fizer duvidar de tudo, que você ainda se lembre de ouvir a intuição, de preservar a inocência e de cultivar a fé. Elas caminham com você desde o berço. E, se você se permitir elas as acompanharão até o fim como grandes e resolutas amigas.
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
Nada é eterno.
A vida é feita de ciclos, alegrias e dores, encontros e despedidas, começos e finais. Tudo passa. Essa frase aparentemente simples carrega um peso imenso de sabedoria. Ela é um lembrete silencioso de que nada é eterno, nem o sofrimento nem a felicidade. Tudo está em constante movimento, como um rio que nunca volta ao mesmo ponto. Vivemos buscando estabilidade, como se fosse possível congelar o tempo nos momentos bons ou acelerar os ruins. Mas a verdade é que não temos controle sobre o tempo nem sobre muitas das coisas que acontecem conosco. Podemos apenas viver cada momento com consciência de que ele é único e passageiro. Quando entendemos que tudo passa, começamos a valorizar mais o agora e também a ter mais paciência com as dificuldades. Nos dias bons, lembrar que tudo passa é um convite à gratidão. É perceber que a felicidade não é garantida e por isso mesmo deve ser celebrada. Devemos rir mais, abraçar mais, sermos mais presentes. Aproveitar cada sorriso, cada conquista, cada manhã de sol, porque até mesmo os momentos mais belos irão partir e tudo o que ficará será a memória de como os vivemos. Nos dias ruins, lembrar que tudo passa é um alívio. É um consolo. É saber que a dor tem prazo de validade, mesmo que agora pareça infinita. Corações partidos cicatrizam. Feridas fecham. Lutos se transformam em saudade serena. Ninguém sofre para sempre, e mesmo que a dor não desapareça por completo, ela muda de forma. A tempestade acalma, o céu escurecido volta a se abrir. Tudo passa inclusive o desespero. "Isso também passará", dizem muitas tradições espirituais como um mantra contra a arrogância e o desespero. Se estivermos em cima, devemos lembrar que isso pode mudar então sejamos humildes. Se permanecermos embaixo, devemos lembrar que a vida segue então vivamos fortes. Tudo é temporário e essa consciência nos convida à resiliência, à fé e ao equilíbrio. As estações mudam, os ciclos viram, as pessoas mudam, nós mudamos. Aquilo que hoje parece insuportável amanhã pode não ter mais importância. O que hoje nos aflige pode ser à base do nosso crescimento. Às vezes, a vida nos tira algo não por crueldade, mas porque já é hora de seguir adiante. Dói, mas passa. Aceitar que tudo passa é também aprender a soltar, desprender a necessidade de controle, soltar o que não volta mais, soltar o que nos prende. Quando soltamos, abrimos espaço para o novo. E a vida está cheia de recomeços disfarçados de finais. Cada perda carrega uma semente de transformação. Cada fim esconde um novo início. Por isso, não se desespere nas horas difíceis. Respire fundo. Caminhe um passo de cada vez. Não se apegue ao que machuca, e também não tente segurar o que precisa ir. Confie na impermanência como uma aliada. Porque, no fim das contas, a verdade mais simples e poderosa é essa: Não somos eternos, tudo passa, tudo acaba.
Um dia especial de superação, esperança e celebração.
Hoje foi um dia especial, marcado por sentimentos profundos, desafios pessoais e, acima de tudo, gratidão. Acordei cedo, acompanhado do cuidado e apoio do meu filho Augustus, que me levou ao INCA, o Instituto Nacional de Câncer, para realizar uma biópsia da próstata. Há cerca de vinte e cinco dias, durante uma consulta de rotina, o urologista detectou um nódulo na minha próstata. Foi um momento de surpresa, expectativa e apreensão que desencadeou uma série de exames e encaminhamentos. O INCA, sendo uma referência nacional em diagnósticos e tratamentos oncológicos, tornou-se o cenário deste capítulo da minha vida. Entre os exames solicitados, a ressonância magnética multiparamétrica da próstata se destacou como peça central no processo de investigação. Foram dias de espera ansiosa que testaram minha paciência e serenidade. Quando finalmente recebi o laudo, senti um grande conforto: o exame não indicava sinais da doença. Apesar do resultado tranquilizador, segui com a biópsia como medida de segurança e confirmação. O procedimento ocorreu hoje. Fui sedado e após a biópsia, acordei ainda um pouco sonolento, sob os cuidados atenciosos da equipe médica. Após um pequeno lanche e as instruções de pós-operatório Augustus me trouxe de volta para casa. Passei à tarde em repouso, dormindo profundamente e logicamente aliviado por efeito da anestesia. Coincidentemente, hoje também é um marco pessoal significativo: Tania e eu completamos cinquenta e quatro anos de casamento. ‘Bodas de Niquel’. A data, que merecia celebração plena, quase passou despercebida diante dos acontecimentos do dia. Ainda assim, há beleza no fato de termos atravessado mais este momento juntos, como temos feito há mais de meio século, com filhos encaminhados e netos em formação, além da notícia de mais um membro da família. Seremos bisavós. Apesar de ter recebido do médico um atestado de cinco dias para repouso, sinto-me confiante de que no sábado já estarei de volta à administração do condomínio, onde exerço a função de síndico. Tenho um compromisso profundo com a transparência e a responsabilidade na gestão e sei que esse trabalho também me fortalece, dando sentido ao meu cotidiano. Encerro este dia com o coração tranquilo. A saúde está sendo cuidada, a família está ao meu lado e sigo confiante de que estou no caminho certo. Que venham os próximos dias e bodas com serenidade, fé e disposição renovada.