Num país distante onde o delito impera, foi construída uma
penitenciária com vários módulos. Esse sistema permitiu que fossem agrupados
vários infratores por modalidade de crimes. Na ala de assassinos o número era
bem maior que em outras unidades ficando a cargo da direção os destinos que seriam
dados a homicida com extensa ficha criminal, condenados a muitos anos de prisão,
sem privilégios e sem direito a visitas. Esse quantitativo aumentava
exorbitantemente ano após ano. Estudou-se a possibilidade de diminuir nessa
dependência as hospedagens pagas com dinheiro publico dos contribuintes de bem.
Lá, onde os jogos de azar reinavam, eles praticamente nada faziam. Ficavam por
duas horas no banho de sol e quando eles retornavam a carceragem, a jogatina
era o principal assunto. O custo para a manutenção desses criminosos era muito
alto. Então o diretor geral, chamado Mustafá, o escolhido, teve a ideia de
fazer semanalmente um sorteio, e aquele que ganhasse os vários jogos realizados
entre eles seria liberado depois de passar pela ultima ala da prisão, sem
retorno às demais, e se permanecessem por dois meses sem brigas seriam
futuramente libertados. A ala da “premiação” era mais espaçosa, mais clara,
indevassável e o local menos barulhento, razão pela qual todos sem exceção
aderiram esse projeto, visando suas libertações. O sorteio era realizado
normalmente aos sábados e na segunda feira o vencedor, apresentado pela ultima
vez aos encarcerados para sua despedida, depois de uma breve oração patrocinada
pelo pároco local. Muitos entregavam cartas endereçadas às famílias, prometendo
estar em breve com elas. O primeiro felizardo foi Kaled, o imortal. Este
estreou a prisão com várias passagens e seus assassinatos sempre cometidos com
objetos cortantes, conforme sua ficha criminal. A ala da libertação era simples
com alguns objetos e ao fundo, coberto por um grande biombo, um forno. A sua
primeira vítima foi uma menina de dez anos, chamada Aysha, dado por sua mãe em
homenagem a uma princesa. Ele entrou na casa da menina que estava brincando
sozinha na sala e aproveitando-se da ausência de sua mãe, Zamira, que significa
“amiga,” que fora ao mercadinho próximo à residência, caminhou sorrateiramente pela
porta dos fundos onde fica a cozinha, apoderou-se de uma faca, e em seguida sem
piedade, o facínora desferiu-lhe vários golpes sem chance de defesa para a
vítima. Sendo encaminhado para a sua premiação, Kaled ficou por algumas horas,
sentado no corredor pensativo e aguardando autorização para entrar. Ele
imaginava como seria a sua nova vida e como seria o seu reingresso na
sociedade. A sua surpresa foi maior quando Rashid, o justo, com voz firme fez a
chamada do outro lado da sala. Ao entrar Rashid ordenou-lhe que tirasse as vestes
e ficasse completamente nu e que ele deitasse numa maca, para alguns
procedimentos. Disse Kaled: - Porque eu tenho que deitar? Respondeu-lhe Rashid:
- Para entrar no novo prédio os prisioneiros devem estar limpos. Vou aplicar-lhe
uma injeção em seguida você irá tomar banho e com as novas roupas que estão ali
no armário, encaminhe-se para sua nova acomodação. Atendendo a seu superior ele
cumpre as ordens, deitando-se na maca enferrujada com algumas marcas de sangue.
Rashid então inoculou em suas veias um líquido avermelhado deixando Kaled meio
tonto. Aplicou-lhe um sedativo para acalmá-lo. Quando Kaled acordou viu-se
amordaçado na bandeja do forno crematório, completamente preso por algemas nos
membros superiores e inferiores e em cima de seu corpo as cartas de seus amigos,
ele desesperou-se com seu sangue pulsando com mais intensidade, gesticulava com
os olhos quase revirados. Empurrado para dentro do forno, o bandido esperneava
e urrava. Nisso, começou a descer lentamente um objeto com vários ferros
cortantes e pontiagudos, com aproximadamente três centímetros que moldavam o
seu corpo, com exceção da cabeça. Kaled havia cometido vinte assassinatos com
arma branca então Rashid o justo, levantou e arriou o equipamento por mais
vinte vezes. O corpo de Kaled todo ensanguentado, misturado às cartas, dava a
certeza que ali seria o ultimo ato de sua vida. Os olhos esbugalhados do assassino
fixavam o seu opositor com lágrimas compulsivas. Por fim, a tampa fechou-se, e
pela escotilha, com o forno aceso observava-se vagarosamente por alguns
segundos Kaled ainda com vida ser consumido a pó, juntamente com as
correspondências presas a seu corpo, sob a supervisão de Mustafá, o escolhido e
seu algoz, Rashid em patrocínio a justiça. Foi concedida ao imortal a sonhada
libertação, livrando sua alma impura aos que seguem esse caminho.
Excelente analogia!
ResponderExcluir