Tudo
calmo aqui na Marangá, a minha querida Rua da Praça Seca, em Jacarepaguá. Não
ouvi tiros, crianças berrando, barulhos de motos, algazarras no morro e pasmem
nenhum radio ligado. Estou sentindo-me um estanho na minha residência. Isso é
um fato anormal. Essa tranquilidade tem hora para acabar. Ao invés de encomendar
uma pizza, eu mesmo resolvi compra-la. Fui e voltei sem ser abordado pelo amigo
do alheio. Parei uns dez minutos no portão do conjunto habitacional, e conversei
com alguns colegas da época escolar. Eles abismados com seus celulares à mostra
faziam gestos de alegria. Um deles, o Tabajara, chegou a dar duas cambalhotas
de um lado da rua a outra. Com a alegria estampada em nossos rostos comentamos
nossas brincadeiras de criança. Subi rapidamente para comer a minha pizza, já
ouvindo a cobrança de minha esposa Tania, reclamando da minha demora. Pedi
desculpas pelo atraso, comi rapidamente um pedaço suculento da portuguesa, sem
tomar quaisquer líquidos e com a boca suja de gordura peguei um guardanapo
saindo serelepe para continuarmos as nossas conversas na entrada da portaria
condominial. Nisso, vimos um carro com giroscópio, aproximando-se rapidamente
sobre nós. Eram os “homes”. Eles mandaram todos nós levantarmos os braços e
encostar as mãos no muro do condomínio. Depois de revistados, seguimos acompanhados
pelos agentes da lei até nossos apartamentos, para verificarem com a central de
polícia as carteiras de identidades, visto estarmos sem a posse dos documentos
de identificação, a fim de verificarem se nós tínhamos algum problema com a
justiça. Sentimo-nos feridos em nossos orgulhos. Depois que a viatura foi
embora, uma fúria apoderou-se do meu corpo e dei um murro para o ar. Ouvi uma
voz feminina gritar: - Ai! Você me machucou! Ali percebi que estava sonhando.
Acabei acordando a minha esposa com aquele soco, pedi desculpas pelo ocorrido e
percebi que tudo fora um sonho. Na realidade acordei com fome, tiroteios,
incursão do BOPE, helicópteros e algazarras de crianças, coisas habituais aqui
na comunidade, mas foram minutos de extrema alegria que passei repousando aqui
na famosa Marangá.
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