Fitando o horizonte as marcas do teu passo. Não é miragem, não são as impressões descalças na areia. Essas se perdem nas pequenas ondas do mar. Esse sentimento de perda em te ires para sempre deixou meu coração desalinhado como figura geométrica em alto relevo fora de foco. Mas ainda assim caminho, mesmo que em desordem, tropeçando nas lembranças que o vento e o mar insistem em devolver à minha paz. Há algo de permanente no efêmero. Uma cicatriz suave no tempo, onde o toque da tua ausência repousa. Tento redesenhar o contorno do teu rastro no ar, como quem desenha o invisível com os dedos, procurando no vazio o eco de um sorriso antigo. As horas passam lentas, como se o relógio também lamentasse. O horizonte, antes promessa, agora é linha de despedida. E eu, aprendiz de solidão, aprendo a seguir sem apagar o que ficou. Porque há passos que, mesmo quando o mar apaga, permanecem. Não na areia, mas na memória do coração que, aos poucos, tenta se realinhar novamente, ainda que torto, ainda que teu. Recolho as lembranças com o cuidado de quem recolhe conchas na beira do mar. E uma delas guarda um som, um instante, uma forma de existir que o vento não levou por completo. Aprendo, aos poucos, que há perdas que não se superam: apenas se transformam em silêncio, em calma, em gesto de seguir adiante e sem despedidas.
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