No meu bairro reside uma mulher afamada. Não pela sua generosidade e energia vibrante, mas pela notoriedade de ‘Dama da tarde’. Hoje ela passou por mim de braços dados com alguém. Um ‘almofadinha’ certinho, com trejeitos de instrumentista, tipo ‘Dona Flor’. Esqueceu-se ela do seu grande ‘Vadinho’. Eu, o baluarte do sexo, entre quatro paredes, perdido em mais uma disputa pelo amor. Além da atração física tínhamos um espaço de descoberta mútua. Uma conexão emocional e física entre parceiros, em celebrações de alcovas, da amizade e do desejo. Este afinal perdura até hoje em minha memória. Bateu em mim uma revolta ao vê-la acompanhada. Aquela mulher de força, liberdade e prazer decidiu se permitir novamente a outras noites. Para ela, cada encontro era uma nova aventura. Um momento vulnerável. As intensidades das noites de paixões, para ela em vão, e para mim enciumado de emoção. Choro hoje, a verdade da minha vida. Enganei-me novamente. Ela, a alma do meu bairro, transformou a minha vida, naquele cabaré de quinta, lá na Lapa, onde os gritos de prazer concentravam-se esforços íntimos em sinergia compartilhada de toques em nossos corpos suados e esguios, explorados a dois. Naqueles momentos, ela era a minha paz e apaixonei-me como ‘Noel’, por uma mulher de bordel, não como o último desejo, porque eu a queria demais. Quando a vi acompanhada floriu em mim um desejo ardente em tomá-la aos meus braços. Chateado em passos trôpegos de ilusão, na calçada oposta, aonde tudo começou, ainda molhada de suor, da minha ruborizada face, com expressão de raiva, acrescidas de veias gélidas, quase petrificadas, impactadas em rever este meu grande amor, contemplando o chão, em olhar fixo, sem aquele derradeiro olhar que não feneceu em festas do velho e conhecido bairro de lupanares, e sem me olhar, como se eu fosse ninguém. Indisponível e fria, ela caminhava lentamente com o seu novo projeto de vida, sem olhar para trás. Eu ainda parei para cumprimentá-la, mas meus lábios paralisados em hipnotismos, não conseguiu uma palavra sequer. Assim, sem despedidas, ainda caminho pelas ruas do meu bairro, a procura da deusa do meu coração.
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