Para mim, o tempo é o agora que pulsa. É o instante que vive, antes de virar lembrança. Ele se despede ao cair da ação e, silente, transforma tudo em passado. Acordo com a velha filmadora ocular, gravando minha vida em ‘cinemascope’, só o roteiro único da realidade. Nos primeiros raios de sol, sou saudado por meus telespectadores, radiantes, fiéis, que, por gentileza ou encanto, seguem minhas cenas com olhos de afeto. Eles me lisonjeiam. Fazem-me sorrir. Na retina, uma fita magnética gira, marcando instantes de lazer, momentos simples, mas eternos. Sem dublês, sem cortes, enfrento cada quadro com coragem, com a alma aberta, sem efeitos que escondam meus tropeços, sem máscaras que disfarçam meu ser. Sou protagonista. Sou autor, sou um peregrino da esperança. O tempo, este diretor que não me ordena, que não exige pressa, apenas me guia, com passos mansos, sem cobrar ensaios. Abro a janela da sala, onde flores e essências me cercam. E nelas, encontro paz, que me transborda em pequenas felicidades, em suaves realizações. Não me iludo com o tempo. Contorno seus labirintos com resiliência, porque quero sempre vencer obstáculos. Sou fiel à minha história, e as vozes que me julgam de longe são apenas ecos, que se dissipam no vasto silêncio do meu próprio ser. E assim, quando a noite descerra o pano e a película encerra mais um ciclo, encaro o tempo momentaneamente, mas sempre real, e belo enquanto sou eu quem vive cada cena das realidades da vida sem choro, mas com emoção.